quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Primeira volta da Liga - Balanço

Primeira volta da Liga Zon Sagres 2012/2013 – Balanço

(imagem retirada de zerozero.pt)

Ao olhar para a classificação da Liga Zon Sagres 2012/2013, após se terem completo as primeiras 15 jornadas correspondentes à primeira volta, a palavra em que penso é “equilibrio”. Não é um equilíbrio total mas sim um conjunto de dois equilíbrios. O primeiro observa-se na luta pelo título cada vez mais resumida a dois clubes. FC Porto e Benfica caminham lado a lado, tão iguais que é preciso recorrer ao segundo critério de desempate para se estabelecer um primeiro classificado. Estas duas equipas mostraram ser muito superiores aos restantes competidores e isso reflecte-se na classificação. Ambas completaram a primeira volta sem derrotas e apenas com 3 empates. Uma delas, o FC Porto, possui a melhor defesa e o segundo melhor ataque da prova. A outra, o Benfica, possui o melhor ataque e a segunda melhor defesa da prova. Com isto, facilmente se explicam os 10 pontos de diferença que partilham para o terceiro classificado, um Sporting de Braga a cumprir com os seus objectivos mas que mostra não ter andamento para acompanhar os dois fugitivos no topo da tabela.


E é esta equipa do Braga, a que mais foge aos tais equilíbrios. Os minhotos encontram-se numa espécie de limbo, cada vez mais longe da luta pelo título mas cada vez mais perto de uma qualificação europeia que dificilmente fugirá. Mostraram ser uma equipa concretizadora mas a sua defesa é permeável demais para que possa aspirar a mais do que um terceiro lugar e são obrigados a assumir-se cada vez mais como o primeiro dos últimos em vez do último dos primeiros, ao contrário do que aconteceu em épocas anteriores.

Continuando a olhar para a classificação, descobrimos, após o Braga, outra equipa que teima em fugir aos tais dois equilíbrios classificativos. O Paços de Ferreira é, com todo o mérito, a grande sensação da primeira metade da prova. Olhando para as estatísticas, ressalta o facto de possuir a terceira melhor defesa da prova e facilmente se percebe que é aqui que reside a sua maior força. Sem grandes estrelas a cintilar pelo relvado da Mata Real, o seu treinador Paulo Fonseca trabalhou de forma notável o que tinha para fazer do equilíbrio e organização defensiva a sua receita para o sucesso. Curioso reparar também que a equipa possui um registo muito semelhante dentro e fora de portas, algo que atesta também a sua força defensiva. Vai ser interessante ver como se vai comportar esta equipa na segunda metade da temporada, principalmente se não perder nenhum dos seus jogadores chave.

Daqui para baixo, existem 7 pontos a separar um lugar que dê qualificação para a Liga Europa de um que provoque descida de divisão. Isto faz com que existam cerca de 11 clubes que em duas ou três jornadas podem passar da glória ao desespero e do desespero à glória. É uma situação muito interessante para quem segue a Liga portuguesa mas que põe os cabelos em pé a 11 treinadores. É neste grupo que se encontra a maior desilusão da prova, o Sporting que  acaba a primeira volta em 9º lugar, na segunda metade da tabela, com o segundo pior ataque do campeonato (juntamente com Gil Vicente e Moreirense). Além dos resultados menos condizentes com o seu estatuto, mostrou exibições de fraca qualidade e vários jogadores em sub rendimento quase constante. Os seus adeptos desesperam e acabam por se tornar mais inimigos do que apoiantes, fazendo com que a equipa pareça jogar sempre sobre brasas. Compreende-se. Para um clube da sua dimensão exige-se que, pelo menos, lute pelo acesso à Liga dos Campeões. Ver-se enrolado neste mar de clubes, não pode deixar de ser preocupante. Vai ser também interessante acompanhar a segunda volta dos leões e perceber se as mudanças significativas efectuadas no plantel, agora liderado por Jesualdo Ferreira, velha raposa dos relvados, vai ter algum efeito positivo.

Chegando à cauda da tabela, com apenas 8 pontos, encontramos um Moreirense cada vez mais último. É uma equipa que tenta praticar bom futebol e, a espaços, consegue-o, o que torna a sua classificação algo surpreendente. No entanto, apresentou uma tendência para perder pontos nos últimos minutos dos jogos que se tem revelado fatal. Reforçou-se para atacar a segunda volta do campeonato mas já parte com uma desvantagem significativa e um peso grande nas suas costas.
De notar que à altura da publicação deste artigo, com a primeira jornada da segunda volta já disputada, as tendências mantêm-se. Apenas se observa que o Braga está definitivamente afastado da luta pelo título e que, agora, tem de se preocupar com o Paços de Ferreira, seu perseguidor a apenas 1 ponto de distância. Conclui-se que fazer previsões para o final deste campeonato é, neste momento, jogar na sorte. Só pode ser bom.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O futebol moderno – Quais as diferenças?

Para dar inicio a este blogue, nada me parece mais apropriado do que falar do “futebol moderno”. Esta é uma expressão recorrente nos discursos de treinadores e até de jornalistas e tornou-se na discussão mais  transversal do mundo do futebol, aplicando-se a todos os campeonatos e equipas. Mas existe, verdadeiramente, uma definição do que é o futebol moderno? Não é fácil chegar a uma conclusão clara.
O primeiro ponto que surge é o seu inicio. Não existe nenhum momento que defina o inicio da era moderna no futebol. Nenhum jogo sintomático de uma abordagem inovadora, nenhum ano desportivo radicalmente diferente dos anteriores. Por aqui se começa a perceber que a expressão “futebol moderno” tem muito de abstracto na sua definição. Para se poder discutir este tema, precisamos de olhar para épocas futebolisticas e não para jogos e, mesmo assim, apenas se nota uma evolução gradual ao longo das décadas. Podemos afirmar que o futebol praticado nos anos 80 era diferente do actual mas apenas em diferenças pontuais. E é aqui que nos devemos focar.
A primeira diferença e, na minha opinião, a mais importante de todas, é o aumento da dimensão física do jogo. Este é o factor chave para que a grande maioria das tais diferenças pontuais tenham passado da teoria à prática. Os futebolistas de hoje em dia são mais fortes e apresentam maior resistência do que há 20 anos atrás. Isto permite que se pressione mais alto, que se contra ataque de forma mais rápida, que se defenda com mais jogadores e sempre com marcações zonais, resguardadas por compensações constantes de jogadores que não param de correr. Permitiu que o meio campo se tornasse mais homogéneo. O jogador que espera, a passo, pela bola ou o que pára depois de a ter recuperado e passado já não existem ou estão em extinção, relegados para equipas menores. Todos têm de correr durante o jogo e isso requer uma maior preparação física. Além disso, os jogadores podem estar mais próximos durante mais tempo, o que diminui a distância média dos passes, diminuindo assim a probabilidade de este sair errado. Mesmo os mais franzinos de hoje conseguem aguentar os 90 minutos em alta rotação. É impossível falar de futebol moderno sem considerar esta diferença física no jogo. Daqui, partimos para outras diferenças.
O meio campo de hoje trabalha mais em conjunto, defende e ataca com todos e é, mais do que nunca, a zona onde o jogo se vai definir. Para isso, os jogadores que habitam esta zona foram ficando cada vez mais parecidos. Os médios defensivos passaram a saber “jogar à bola” e os ofensivos, os chamados organizadores de jogo, passaram a saber defender e lutar pelas bolas. Esta homogeneidade dos jogadores permite que o meio campo de uma equipa de topo actual consiga pressionar mais alto o adversário sem perder qualidade de posse e permite que, pelo contrário, possa defender em bloco baixo para logo sair rápido para o contra ataque com qualquer dos jogadores que tenha recuperado a bola. Muitas vezes, observa-se estes dois comportamentos em diferentes alturas do mesmo jogo, sem sequer haver a necessidade de substituir jogadores. Mais importante do que isso, permite que os jogadores entrem em trocas de posição constantes, parecendo por vezes estar em todo lado, confundindo marcações e abrindo espaços e linhas de passe, mantendo a bola até que um dos médios faça um movimento que abra a defesa, seja uma triangulação, uma finta em posse ou uma assistência para um dos avançados ou mesmo para...outro médio.
Outra diferença a assinalar é o aumento de velocidade dos defesas centrais. Os centrais de antigamente eram jogadores pesadões, habituados a efectuar marcações individuais. Duros de rins, tinham pouca mobilidade e limitavam-se a esperar pelos adversários ou pelas bolas aéreas. Isto obrigava a que as defesas jogassem mais recuadas, receando uma jogada de contra ataque adversário. Ao recuar a defesa, estendia-se o meio campo, de forma a ficar sempre algum médio por perto para apoiar. A única forma de jogar com uma defesa subida era treinar exaustivamente os movimentos de colocação do adversário em fora de jogo. Hoje, os clubes procuram centrais rápidos. Por vezes parece mais importante do que a sua capacidade de corte ou de marcação. As defesas jogam mais subidas não porque passaram a treinar mais o fora de jogo mas também porque confiam que os seus defesas consigam correr atrás dos avançados e recuperar a bola ou, pelo menos, a posição. Este aumento de velocidade permitiu também o uso quase exclusivo das marcações zonais pois aumenta-se a velocidade das compensações. Mas não se pense que todos os defesas centrais passaram a ser velocistas. Os centrais lentos continuam a existir no futebol de topo mas quase sempre acompanhados por um central rápido. Isto faz com que os centrais de hoje joguem sempre em função do seu companheiro de posição, de tal forma que seja quase impossível não os avaliar como uma dupla.
Outra posição que sofreu alterações foi a dos extremos. Cada vez mais se usam estes jogadores para finalizar as jogadas. Deixaram de ir à linha final para cruzar a bola para um qualquer gigante plantado na área e passaram a cortar por dentro, fugindo ao lateral adversário e causando desequilíbrios entre os centrais e o trinco. Optam frequentemente por entrar em velocidade pela área dentro e não é raro finalizar uma jogada. Não é por acaso que os dois maiores goleadores do futebol actual, C. Ronaldo e Messi, sejam extremos. Partem muitas vezes da linha mas rapidamente aparecem na área e raramente os vemos a cruzar bolas. Mas mesmo os extremos mais especializados em efectuar cruzamentos optam frequentemente por cruzar quando chegam à grande área em vez da linha final. Com isto, diminuem o tempo de chegada da bola ao avançado, obrigando os defesas a ter de efectuar movimentos pouco naturais para atacar uma bola aérea que lhes é metida nas costas. Isto também confunde os laterais que ficam sem saber se devem arriscar defender numa situação de 1 para 1 com o extremo que lhes aparece pela frente, ou se podem esperar que venha algum apoio tentando manter o adversário longe da linha final. Nunca sabem se vai correr para a área, para a linha, ou se vai cruzar de onde está. 
Além de tudo o que escrevi, não podemos esquecer que, actualmente, nem só as grandes equipas trabalham bem. Todas as equipas das ligas principais e mesmo das secundárias dos vários países trabalham de forma similar, seguindo os mesmo processos. As condições de treino melhoraram e continuam e melhorar. As equipas mais pequenas já não perdem os jogos por não ter condição física para os aguentar. As diferenças entre equipas continuam a existir mas são cada vez mais esbatidas tornando os jogos mais equilibrados. Estas diferenças só não desaparecem totalmente porque estas continuam a ter condições financeiras muito díspares e, por consequência, jogadores de qualidade díspar.
Nenhum destes factores é decisivo “per se”. Existe, entre o futebol moderno e o clássico, mais uma multitude de diferenças que podem ser assinaladas, desde o aumento da habilidade dos guarda redes com a bola no pé até ao tamanho dos calções dos jogadores, mas é o seu conjunto que faz a diferença. No geral, no futebol moderno, as equipas correm mais, defendem melhor e atacam mais em conjunto. O jogo é, agora, mais colectivo do que nunca. Mourinho costumava dizer que apenas o ponta de lança pode ser egoísta mas até isso está a mudar.
Mas não se pense que o futebol moderno seja apenas o resultado de uma soma de factores  positivos. Perdeu-se algo pelo caminho. Os jogos são menos repentistas, menos apaixonantes. O romantismo do futebol dos anos 70 e 80 parece ter desaparecido mas isso é uma discussão para outros artigos.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Apito inicial

Começo por dizer que não sou um expert mas sim um apaixonado por futebol. Alguém que sempre gostou de discutir o jogo e os seus mais variados aspectos. Vejo, assim, a abertura de um blogue dedicado ao desporto rei como um passo natural. Um espaço onde possa partilhar o que penso sobre o futebol, a sua evolução e os seus protagonistas.
Assim  nasceu “Camarote”, um blogue sobre futebol pensado para quem gosta de futebol. Será dedicado quase em exclusivo ao futebol português e, com isso, terá uma tendência natural a debruçar-se sobre a Primeira Liga e, consequentemente, os seus maiores clubes, mas sem nunca esquecer que a Liga é constituída por 16 participantes. Propõe-se a olhar para os clubes do nosso campeonato de uma forma mais abrangente, dentro e fora das quatro linhas, discutindo estratégias e direcções tomadas pelos clubes ou até pelos seus adeptos sem ignorar que os jogadores e treinadores são os verdadeiros protagonistas deste desporto que tanta gente fascina e tantos arrasta.
Fica dado o apito inicial para a abertura deste blogue. Espero que venha a ser do vosso agrado.