sexta-feira, 29 de março de 2013

Pérolas III: Josué

Josué, médio criativo do Paços de Ferreira
Jogador formado no modesto Candal, mudou-se no primeiro ano de júnior para o Futebol Clube do Porto, e era apontado como um dos mais talentosos médios da sua geração mas apesar de ter coleccionado algumas internacionalizações nas selecções jovens, atingindo a idade de sénior, nunca se conseguiu impor na principal equipa dos azuis e brancos. Após dois anos de empréstimo, passando sem grande destaque pelos secundários Sporting da Covilhã e Penafiel e também pelo pequeno clube holandês Venlo, parecia ser mais um dos inúmeros casos de jogadores que se perdem na transição para a idade de sénior e a sua dispensa do Dragão foi vista como natural. Tendo passado a ser um jogador livre, Josué rumou ao Paços de Ferreira e após uma primeira temporada onde não se conseguiu impor com regularidade no onze titular, aparece agora como indispensável ao esquema com que Paulo Fonseca organizou os castores e tem sido um dos destaques da edição 2012/13, da Liga Zon Sagres, beneficiando também da bela campanha que o seu Paços de Ferreira está a realizar.
Josué fez a formação como médio ofensivo mas nunca foi um número 10 clássico. Tem garra para pressionar o adversário e apresenta uma mobilidade acima da média o que parece fazer dele mais um médio centro de cariz ofensivo do que um verdadeiro médio organizador de jogo. É um jogador de equipa e, quando sozinho no meio campo ofensivo, obrigado a tomar as rédeas da equipa, perde-se um pouco. Paulo Fonseca percebeu bem isso e encaixou o talento de Josué no seu meio campo a quatro. Assim, ao observarmos o Paços de Ferreira, reparamos que Josué joga como médio ofensivo mas mais descaído para uma das alas, normalmente a esquerda, onde tira partido da boa capacidade de passe que possui quando utiliza o pé esquerdo para efectuar cruzamentos com qualidade ou passes de morte para a grande área, normalmente após combinar com Vítor num verdadeiro jogo de pares que comanda o jogo ofensivo dos castores. Com boa capacidade técnica, consegue segurar a bola quando a equipa precisa de serenidade ou efectuar um drible para ganhar espaço. Não é, no entanto, muito rápido. É ainda um bom marcador de bolas paradas, sendo frequente efectuar a marcação de cantos e de livres directos.
Não espanta quem está mais atento à campanha dos pacenses que tenha sido o Jogador do Mês de Fevereiro para a Liga de Clubes e que tenha sido pré-convocado por Paulo Bento para a Selecção Nacional. Acabou por ficar fora do lote final que o seleccionador levou para os jogos com Israel e Azerbaijão mas pode considerar que subiu mais um degrau na sua carreira, mesmo que pequeno. A continuar assim, poderá vir a confirmar o que se esperava dele enquanto júnior e, segundo algumas noticias postas a circular, até o poderá vir a fazer no FC Porto, clube que parece interessado no seu regresso. Seria voltar pela porta grande do Dragão mas, mesmo que não se concretize, está aqui um médio para voos mais altos, à atenção de clubes de maior dimensão do que o Paços de Ferreira.

sexta-feira, 22 de março de 2013

O 4-4-2 na Liga Portuguesa

Quatro defesas, quatro médios e dois avançados. Há décadas que o 4-4-2 é dos sistemas tácticos mais conhecidos e aceites no mundo. Foi o sistema standard da maioria das equipas nos anos 70 e 80 mas foi perdendo protagonismo durante os anos 90 para o 4-3-3, sem dúvida, o sistema táctico do SEC. XXI, não porque tenha sido inventado neste século, mas porque domina amplamente o futebol europeu, excepção feita ao campeonato inglês, onde ainda se observam várias equipas esplanadas em 4-4-2. Em Portugal, a situação não é diferente mas aqui, o 4-4-2 começou a desaparecer mais cedo. Desde o inicio da década de 90, foi sendo substituído pelo 4-2-3-1, sistema tipo da selecção nacional da altura, que acabou por derivar num mais moderno 4-3-3, com a gradual extinção dos organizadores de jogo, os chamados números 10, substituídos por médios centro ofensivos, mais recuperadores e que sabem jogar uns metros mais recuados. É o sistema tipo da Liga Zon Sagres, utilizado pela grande maioria das equipas, desde candidatos ao título a equipas envolvidas na luta pela manutenção. No entanto, o 4-3-3 não é um sistema perfeito e tenho dúvidas que seja o melhor sistema táctico do futebol mas acho-o o mais fácil de implementar e interpretar e, talvez por isso, seja o preferencial da grande maioria dos treinadores actuais. Perante esta abundância, acabam por sobressair as poucas equipas que o recusam, adoptando outros sistemas tácticos, dos quais o 4-4-2 é incontornável. Olhando para a Liga Zon Sagres, identifico apenas duas equipas que jogam habitualmente em 4-4-2, sendo curioso que usam duas variações bem diferentes do mesmo sistema. O Benfica de Jorge Jesus e o Beira-Mar, desde que passou a ser treinado por Costinha.
O 4-4-2 clássico do Benfica
No Benfica, Jesus, talvez aproveitando a saída de Javi Garcia, trinco puro, aproveitou para desenhar um 4-4-2 clássico, com um meio campo disposto em linha, apresentando apenas dois médios centros e dois alas bem abertos. É o 4-4-2 à inglesa, sistema táctico de cariz ofensivo, muito parecido com o sistema que Alex Ferguson gosta de utilizar no seu Manchester United. Este sistema coloca automaticamente a defesa adversária em dificuldades por ter de marcar dois avançados, em vez do tradicional ponta de lança solitário. Esta colocação de dois avançados obriga a que o adversário não possa deixar um dos seus defesas centrais para as sobras das marcações e, face à mobilidade ofensiva, acabe por abrir espaços onde possa aparecer um destes jogadores, após se ter desembaraçado da sua sombra defensiva ou um dos alas que, fugindo ao defesa lateral, invade a grande área, num espaço entre defesas que não pode ser  compensado facilmente pelo tal defensor que sobra pois este deixou de o ser. Já não sobra nenhum defesa para a compensação. E é aqui, nas alas, que se encontra a chave ofensiva deste sistema clássico. JJ percebeu bem isso e armou a sua equipa com vários alas desequilibradores, dos quais se destacam Ola John e Sálvio, alas puros, que jogam a grande velocidade e têm criatividade suficiente para entrar no um contra um sem grandes dificuldades. São eles que criam a vertigem ofensiva do Benfica, tantas vezes elogiada ao longo da temporada. São, no entanto, jogadores que não possuem apetência defensiva e que acabam por deixar o meio campo em constante inferioridade numérica quando obrigado a defender. Jesus sabe disso mas achou que valia a pena arriscar. Não foi uma aposta cega. Para isso, olhou para o plantel e percebeu que tinha um jogador que poderia interpretar na perfeição o que este sistema pede para o seu meio campo. Nemanja Matic. É ele quem garante o equilíbrio táctico da equipa e impede que esta se desmorone quando apanhada em contra-pé. Sabe defender e sabe sair com bola mas é a sua inteligência táctica que faz a diferença, permitindo que apareça sempre onde é preciso no momento certo. Dificilmente Javi Garcia, apesar de ter uma qualidade indiscutivel, poderia interpretar este papel tão bem. Carlos Martins seria o jogador natural para jogar ao lado do gigante sérvio mas, com vários problemas físicos desde o inicio da temporada, obrigou Jesus a adaptar Enzo Perez a esta posição. Foi uma aposta ganha. Este é mais discreto que Matic mas tem-se mostrado igualmente eficaz na recuperação e na transição ofensiva, principalmente porque aprendeu a soltar a bola no momento certo. E recupera melhor do que Carlos Martins poderia fazer. Tudo isto funciona bem contra equipas mais fracas, na realidade, a maioria das equipas que o Benfica iria encontrar pela frente ao longo da temporada. Contra equipas mais fortes fica mais exposto e o caudal ofensivo pode não chegar para compensar as oportunidades que, invariavelmente, serão criadas contra si. De forma a diminuir a exposição defensiva da equipa, Jorge Jesus tem optado pela entrada no onze de Gaitan, ala de origem mas mais culto tacticamente que Ola John ou Sálvio. Ora entra para uma das alas, em substituição de um dos referidos jogadores, fechando melhor o flanco em transição defensiva, ora entra em substituição de um dos avançados, assumindo a posição 10, nas costas do ponta de lança, tudo isto sem que deixe de pensar o jogo ofensivamente. A equipa, nesta caso, deixa de jogar em 4-4-2 e passa a jogar num 4-2-3-1 mais próximo do próprio 4-4-2 do que do seu parente 4-3-3. Esta última tem sido a aposta mais frequente neste ultimo terço da época em que saber guardar um resultado pode significar ganhar mais do que apenas os três pontos em causa. Jorge Jesus montou uma equipa de alto risco mas está perto de ganhar a aposta.

O 4-4-2 losango do Beira-Mar
Em Aveiro, mora outra vertente do 4-4-2. Com a época em risco, ocupando um dos lugares de despromoção, a direcção do Beira-Mar decidiu apostar num treinador estreante, com nome feito como jogador, Costinha. O “ministro” pegou na equipa e não teve medo de mudar o 4-3-3 tipo utilizado pelo seu antecessor Ulisses Morais para um 4-4-2 losango, muito parecido com aquele que Paulo Bento celebrizou na sua passagem pela Sporting. E parece ter feito uma aposta inteligente. Apesar de possuir alguns alas razoáveis, o treinador olhou para os seus jogadores e percebeu que tinha vários médios centro de boa qualidade e ainda alguns avançados mais talhados para jogar apoiados na frente, como Yazalde ou Abel Camará, reforçados pelo facto de Balboa e Serginho, alas de origem, conseguirem interpretar a posição de avançado. Aposta assim num meio campo disposto em losango tipico, com Ricardo Dias no vértice defensivo, o regressado ao clube Rui Sampaio e Nildo como interiores e Rúben Ribeiro no vértice ofensivo. Este sistema parece-me o mais adequado para estes jogadores, principalmente para Rúben que, nesta posição, parece outro jogador, mais confortável para mostrar a sua qualidade. Passou vários jogos apagado como  ala ou escondido como médio centro do 4-3-3 previamente utilizado. Aparece agora com liberdade de movimentos nas costas dos avançados sabendo cair nas alas como bem entender, sempre apoiado por Nildo, o interior que sobe mais, e assume-se como o grande desequilibrador ofensivo da equipa. Defensivamente, Ricardo Dias é um trinco pouco experiente mas de bom toque de bola e está sempre bem apoiado por Rui Sampaio, o médio interior que recua mais, assumindo, quando necessário, um duplo pivot. Este meio campo apresenta uma dinâmica muito interessante, destacando-se o jogo de pares, com as trocas posicionais entre Rúben e Nildo quando a equipa tem a bola, ou com a ocupação de espaços a dois por Rui Sampaio e Ricardo Dias, quando a equipa a perde. Ficam a faltar soluções no banco para estas posições, algo que não é de estranhar, visto que o plantel fora pensado para uma táctica de 3 médios e não de 4. Ainda passaram poucos jogos ao comando de Costinha mas a qualidade futebolistica aumentou consideravelmente e, a continuar a jogar assim, terá condições de ter uma palavra a dizer na luta pela manutenção.
Costinha iniciou a sua carreira de treinador no Beira-Mar
Resta-me referir que o Nacional da Madeira, agora treinado pelo camaleão táctico Manuel Machado, de regresso ao clube após passagens prévias bem sucedidas, por vezes adopta este sistema, mas não faz dele o seu preferencial.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Mourinho numa semana

Old Trafford. A 30 segundos do fim da segunda mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões que opunha o Real Madrid à equipa da casa, o Manchester United, José Mourinho abandona o banco da sua equipa e dirige-se para o balneário. Caminha sozinho, sem grande alarido e tentando ignorar os adeptos do clube adversário que o tentam cumprimentar enquanto se dirige para o balneário. Foi o culminar de uma semana decisiva para a temporada da sua equipa onde conseguiu derrotar, mesmo que temporariamente, as forças que desde o inicio atribulado da época o tentam derrubar. 
Mourinho caminha para o balneário pouco antes do fim do jogo
É um facto que, desde que chegou a Madrid, José Mourinho criou diversos anticorpos com as mais variadas forças do futebol espanhol. Em pouco tempo, não afrontou apenas os rivais mas também alguns adeptos e, principalmente, a imprensa ligada ao merengues, habituada a ter poder a mais dentro da "casa blanca". A sua estratégia de comunicação, baseada em atrair as atenções para si e libertar o mais que pode a sua equipa da pressão que naturalmente a rodeia é propensa a empolar essa situação. Ao longo de duas temporadas, Mourinho foi ganhando e cultivando uma quase invulnerabilidade mas nesta temporada, tudo mudou. Com o falhanço que a campanha para a revalidação do título se tem mostrado desde cedo, a imprensa espanhola sentiu que esta era a época em que punham o treinador português naquele que consideram ser o seu sítio e se vingaria da forma como foi tratada e afastada por Mourinho desde que este chegou ao colosso espanhol. Chegara o momento de pedir definitivamente a cabeça do treinador.
O caso não era para menos. Ao Real Madrid, afastado da revalidação do título de campeão espanhol, restava a luta pela conquista da Taça del Rei e da décima Liga dos Campeões da sua história. Como que por um acaso do destino, para as duas competições, aos merengues saiu em sorte o Barcelona e o Manchester United, aparentemente as mais difíceis equipas que lhe poderiam ter tocado no sorteio desta fase. A imprensa sentiu isso mas Mourinho também o percebeu e, ao seu estilo, ao invés de olhar para a imensa fatalidade que estas duas eliminatórias poderiam trazer encarou-as como a grande oportunidade de calar quem pede a sua demissão. Quis o destino que os jogos decisivos fossem marcados com uma semana de intervalo e com um jogo do campeonato pelo meio, exactamente contra o grande rival, o Barcelona, jogo esse que mesmo tendo pouco impacto para as contas do campeonato espanhol, teria uma carga emocional que tinha tudo para ser um grande acrescento de lenha para uma fogueira que parecia estar já incontrolável.

Imprensa espanhola sempre impiedosa com Mourinho
O Real começou a tal semana numa terça-feira, ao ganhar de forma retumbante em Camp Nou por 3 a 1, causando a eliminação do Barcelona da Taça del Rei e acabou-a, na quarta-feira seguinte, a ganhar em pleno "Teatro dos Sonhos" de Manchester, colocando o United local fora da corrida para a conquista da Champions. Pelo meio, ainda ganhou o tal jogo do campeonato, utilizando um misto de jogadores titulares e de suplentes, contra a equipa titular dos catalães, aumentando assim, a intensidade da resposta dada. O Real Madrid venceu estes jogos importantes e, mais do que isso, ganhou uma nova tranquilidade para enfrentar o que falta da época. Mas o que sobressai mais é que Mourinho calou os críticos. Parece ser inevitável que saia no final da época mas é uma certeza que, depois desta semana, já não caberá na porta pequena do Santiago Bernabéu. E até poderá vir a sair pela maior porta do estádio, com uma Champions na mão.
Mourinho carimba a vitoria frente à imprensa em Old Trafford
Foi, sem dúvida, uma semana especial, ao estilo de um treinador que não se cansa de mostrar que é o mais especial do mundo do futebol. Mourinho é mesmo o Special One.

terça-feira, 5 de março de 2013

A ilusão da pressão alta

Jogar em “pressing” é uma expressão antiga do mundo do futebol mas não significa hoje o que significava há vinte anos atrás. A ideia de jogar em pressão tinha génese defensiva. Baseava-se em encurtar espaços ao adversário, principalmente a partir do momento em que esta entrava no meio campo da equipa defensora, utilizando um misto de marcações individuais aos jogadores desequilibradores e de marcações à zona que tendiam a procurar pressionar o portador da bola com um mínimo de dois jogadores. A ideia de jogo passava por reduzir as oportunidades adversárias e era típico vermos este desempenho em jogos em que o clube em causa não era o favorito, jogando contra uma equipa de valor superior. Com o passar dos anos e a com a entrada no século XXI, a ideia do pressing foi-se alterando. O aumento da dimensão física do jogo, tão característica do futebol moderno, permitiu que a pressão possa ser efectuada durante mais tempo e, principalmente, uns metros mais à frente, já dentro do meio campo adversário, por vezes logo à saída da sua grande área. Isto teve como resultado que a ideia de jogo de pressão passasse a ser ofensiva e não meramente defensiva. Deixou-se de falar em “pressing” e passou-se a falar em pressão alta. 
   
Esquema do FCPorto de Mourinho

Ao pressionar a saída de bola do adversário, mata-se a jogada no seu período embrionário e evita-se o aparecimento no jogo dos jogadores com maior capacidade desequilibradora ofensiva do opositor, normalmente posicionados numa zona mais adiantada da equipa que, assim, não recebem a bola, ou são obrigados a lutar por ela numa zona onde não se sentem confortáveis. Acima de tudo, quando bem feita, a pressão alta permite que a equipa que a faz se mantenha dentro do meio campo adversário por mais tempo, em posse de bola. Aumenta-se assim a probabilidade de criar oportunidades de golo devido ao aumento da proximidade da baliza adversária durante maior número de minutos. O Futebol Clube do Porto de José Mourinho foi o expoente máximo deste tipo de jogo em Portugal e um dos maiores expoentes na Europa, tendo conseguido a glória suprema de conquistar uma Liga dos Campeões, muito à custa da excelente interpretação desta estratégia.

Mas nem tudo são rosas. Não existe estratégia perfeita e esta não foge à regra. À parte da obrigatoriedade lógica de possuir jogadores talhados para a sua interpretação, a pressão alta apresenta um problema que, por vezes, passa despercebido mas que constitui o seu maior defeito. A redução de espaços ofensivos da equipa que a emprega. Quando bem feita, a pressão alta de uma equipa empurra o adversário para trás que, em sufoco, vai fechando as suas linhas cada vez mais perto da sua área diminuindo os espaços para que os jogadores mais criativos possam pensar e desequilibrar. É mais uma estratégia imposta do que escolhida mas o efeito é o mesmo. A equipa atacante passa o tempo em cima do adversário mas cria poucas oportunidades de golo. Sem espaços de penetração, é frequente recorrer a remates de meia distância ou a cruzamentos de probabilidade de sucesso baixa, onde a bola é metida para uma molhada de jogadores e onde os defesas, recebendo-a de frente mantêm-se sempre em vantagem. No fim do jogo, as estatísticas disfarçam esta realidade. Aparece sempre uma posse de bola superior, uma quantidade de ataques anormalmente alta e, tipicamente, um grande número de remates. Mas a verdade é que as oportunidades flagrantes de golo são muito escassas. Em Portugal, o Futebol Clube do Porto de Vítor Pereira tem aprimorado a sua estratégia de pressão alta e, apesar dos elogios de adeptos e jornalistas ao seu futebol, cada vez tem tido mais dificuldade em marcar golos e, assim, vencer os jogos. Basta recordar o jogo contra o Málaga, na primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões onde a pressão exercida pelos dragões sufocou por completo a equipa espanhola e apenas deixou que esta efectuasse um remate durante os 90 minutos. Impressionante, sem dúvida. Mas, para vencer o jogo, o FC Porto teve igual dificuldade. Atacou muito e rematou muito de fora da área, quase sempre mal, mas não conseguia penetrar na área adversária e acabou por marcar um único golo, numa jogada irregular, tendo sido preciso um fora de jogo para que se conseguisse aparecer na cara do guarda redes para facturar. Aparte isso, apenas uma oportunidade digna desse nome. Em Alvalade, frente a um Sporting em claro sub rendimento, o mesmo problema. Os portistas acabaram o jogo com uns impressionantes 64 por cento de posse de bola mas as oportunidades flagrantes foram muito escassas. Lembro-me de apenas duas, uma por Defour e outra por Atsu, e mesmo essas não foram perdidas escandalosas, com os jogadores a aparecerem vindos da ala e sem grande ângulo de remate.
Estatistica de jogo do FC Porto vs Málaga
Existem várias formas de contrariar este problema. Uma delas é através de mudanças de velocidade no jogo, fazendo circular a bola uns metros mais atrás, convidando a equipa adversária e subir um pouco, e, quando esta abre um mínimo de espaço, aumentar a velocidade do jogo colocando a bola nas faixas ou na velocidade do seu avançado através de um passe de ruptura. Outra forma de dar a volta é ter bons rematadores de meia distância que possam marcar um golo a 30 metros sem grande dificuldade. O Futebol Clube do Porto desta época não possui extremos desequilibradores, não tem grandes rematadores de meia distância e Jackson Martinez, que já mostrou ser um grande jogador, não é rápido o suficiente para responder sempre bem às tais acelerações do jogo. Tudo isto vai obrigar Vítor Pereira a rever esta estratégia de pressão alta sob pena de acabar o campeonato sem glória, com um estilo de jogo altamente elogiado e uma série de empates nas mãos.