terça-feira, 1 de outubro de 2013

Fonseca metido num 8

Paulo Fonseca não gostou das criticas às exibições da sua equipa
“Não passamos do 80 para o 8”. Foi com esta frase que Paulo Fonseca, treinador do FC Porto, respondeu às criticas que foram dirigidas às exibições da sua equipa após alguns jogos menos conseguidos. Com efeito, os jogos contra Áustria de Viena e Estoril não corresponderam às expectativas dos adeptos e mesmo grande parte do último jogo disputado para o campeonato, frente ao Vitória de Guimarães deixou algo a desejar. Ganhou dois desses três jogos mas de forma tangencial e o empate com o Estoril, casos de arbitragem à parte, não poderia parecer mais justo. A verdade é que o FC Porto começou muito bem a época, com exibições portentosas no jogo da Supertaça e em casa com o Marítimo, esta última inflacionada pelo facto de os madeirenses terem batido o Benfica apenas uma semana antes. Mas, desde essa altura e apesar de coleccionar vitórias, foi perdendo qualidade de jogo.
Fernando tem apresentado algumas dificuldades a jogar com alguém a seu lado

A expressão usada por Paulo Fonseca não deixa de ser curiosa até porque é exactamente no número 8 que está a grande diferença da época anterior para esta e talvez a origem do problema actual. Desde que assumiu o comando do FC Porto, Paulo Fonseca tem trabalhado para imprimir o seu cunho pessoal ao futebol praticado. A equipa continua a apresentar-se no seu tradicional 4-3-3 mas joga de forma diferente quando comparada com as duas últimas épocas, à altura comandada por Vítor Pereira. Não está tão obcecada com a posse de bola e pratica um futebol mais rápido, utilizando mais as faixas laterais para chegar com maior velocidade à baliza adversária. Os extremos têm, assim, apresentado maior relevância no jogo colectivo da equipa, sendo mais vezes chamados a cruzar bolas ou até a aparecer na área para finalizar.Mas é no meio campo que se nota a maior diferença. Continua, no papel, a apresentar um meio campo a 3 mas deixou de apresentar um número 8 bem definido e joga agora com um duplo pivot defensivo. Este duplo pivot tem a missão de controlar as movimentações adversárias nesta zona do terreno mas também de sair com a bola controlada e envolver-se de forma clara no movimento ofensivo da equipa. Para isso, um dos jogadores da dupla, de forma mais ou menos alternada, sai do seu lugar recuado e assume a tal posição 8 que estava vaga, aparecendo bem mais à frente a combinar com quem quer que conduza a bola ou até mesmo a assumir a própria condução de jogo. Nestas funções, Defour parece estar mais confortável mas Fernando mostra dificuldades. O brasileiro não tem caracteristicas para pegar no jogo. É um recuperador nato que quando tem a bola a sabe entregar com qualidade mas não é especialista na condução. Além disso, está menos eficaz a defender parecendo até algo perdido em campo, o que é estranho para um jogador que faz do posicionamento a sua principal arma. Ao vê-lo jogar nestas condições, lembro-me sempre de Redondo, trinco do Real Madrid dos anos 90, que dizia que colocar outro trinco a seu lado é como tapar um dos seus olhos. Mesmo Defour não está a corresponder como esperado. Sabe defender a dois e aparecer à frente mas não é dotado o suficiente para fazer a diferença. É um jogador de equilíbrios e o que se pede nesta função, quando sai da sua posição recuada, é que apareça a desequilibrar.
Onze do FC Porto contra o Vitória de Guimarães

Paulo Fonseca parece já ter reparado nisto e tentou utilizar outros jogadores nesta posição. O primeiro a aparecer foi Josué mas pareceu ainda mais desenquadrado do jogo. Apesar de saber conduzir a bola não sabe defender como o belga e acaba por abanar a solidez do meio campo. Com menos recuperação, há menos bola e o seu bom jogo ofensivo acaba por sofrer com isso. Além disso,  é um jogador que gosta de percorrer caminhos mais adiantados e, nesta posição, é obrigado a passar mais tempo na linha defensiva do meio campo do que na ofensiva. É a antitese de Defour. No último jogo, o treinador dos dragões surpreendeu ao colocar Lucho Gonzalez no duplo pivot. O argentino sempre primou pelo seu grande sentido táctico e até é um 8 de formação. Fez um bom jogo recuperando várias bolas e saindo a jogar como se lhe pedia, chegando a aparecer como tanto gosta na área a finalizar. Mas jogar desta forma é muito exigente fisicamente e o capitão portista já com 32 anos, foi perdendo fulgor com o decorrer do jogo e, com a entrada em campo de Defour,  acabou-o na sua posição habitual, no vértice ofensivo do triângulo central.
Mas não se pode olhar apenas para o esquema táctico. Ninguém deve esquecer que o FC Porto perdeu, para esta temporada, João Moutinho. Este era o jogador que ocupava o espaço central de forma exemplar, organizava jogo desde atrás e aparecia a fechar a porta ao adversário quando necessário. Era o jogador chave das temporadas passadas e não foi por mera coincidência que a sua ausência, por lesão, na época anterior, correspondeu ao mês em que o FC Porto de Vítor Pereira apresentou piores exibições, tendo inclusivamente caído na Liga dos Campeões e motivado criticas dos seus adeptos. Mas Moutinho seria sempre difícil de substituir e era esperado que a equipa sentisse a sua falta. É o 8 que falta. Paulo Fonseca sabia disso desde o inicio da pré temporada. 
João Moutinho é o 8 que falta ao FC Porto
Talvez por não ter Moutinho, o treinador tenha desde cedo introduzido e insistido neste esquema mas não me parece que seja o melhor para os jogadores que possui. Tem conseguido compensar, a espaços, com a colocação de Josué a falso extremo, aparecendo este no meio para se integrar no jogo ofensivo interior e deixando o duplo pivot menos pressionado para o fazer, algo que era a sua táctica preferencial no Paços de Ferreira mas isso, no fundo, é ter dois jogadores a fazer o que Moutinho fazia sozinho. Penso que está aqui o grande responsável pela fraca qualidade das exibições portistas. O duplo pivot defensivo não é necessariamente uma má ideia mas quando deixa jogadores fundamentais, como Fernando, fora do seu habitat natural, passa a ser uma ideia, no mínimo, discutível. Paulo Fonseca estaria melhor a jogar pelo seguro e voltar ao meio campo típico do 4-3-3 moderno, com um trinco, um médio centro e um médio ofensivo mas compreende-se que queira impor as suas ideias, mesmo correndo o risco de levantar criticas nos adeptos azuis e brancos. Se as vitórias continuarem a fluir, acabará por conquistá-los e à critica. 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O que se passa em Paços

Após uma época em festa os adeptos deparam-se com outra realidade
Foi a equipa sensação da última temporada ao conseguir um espectacular terceiro lugar na Primeira Liga e uma inédita qualificação para a pré eliminatória da Liga dos Campeões mas esta época, após 7 jogos oficiais disputados, conta o mesmo número de derrotas. Esta inversão de resultados parece ser surpreendente mas acaba por ser algo previsível. Vejamos o que se passa no mundo do Futebol Clube Paços de Ferreira.
Equipa tipo do Paços de Ferreira 2012/2013
Após uma boa temporada, será de esperar que um clube de média dimensão aproveite para vender os seus principais activos e capitalizar assim os bons resultados desportivos. O Paços de Ferreira não foi excepção e, após a brilhante temporada de 2012/2013, viu sair a sua equipa técnica, à altura liderada por Paulo Fonseca, para o Futebol Clube do Porto e também a maioria dos seus principais jogadores, dos quais se destacam as transferências de Josué a acompanhar o treinador para os dragões, de Vítor para o Sporting, de Luiz Carlos para o Sporting de Braga e de Diogo Figueiras para o Sevilha. Além destes viu sair também o guarda redes Cássio e o avançado Cícero, jogadores muito utilizados durante a temporada. Para os substituir, o Paços manteve a toada de outras épocas em que a estabilidade financeira é regra e conseguiu, mesmo assim, algumas contratações que, à partida, garantem qualidade à equipa, casos de Rui Miguel e Gregory, jogadores com historial em Portugal e que regressam ao campeonato nacional após passagens pelo estrangeiro, Rúben Ribeiro e Hélder Lopes, que se tinham destacado na época anterior ao serviço do Beira Mar, de Sérgio Oliveira e Michael Seri, duas esperanças muito utilizadas na equipa B do FC Porto, de Carlão, avançado experiente vindo do Sp. Braga e Bebé, internacional sub-21 por Portugal e emprestado pelo Manchester United. Bons jogadores, sem dúvida, mas são também um grande número de entradas para enquadrar na equipa em pouco tempo e isso é sempre uma causa de instabilidade.
Possível equipa tipo do Paços de Ferreira 2013/2014

Para liderar o novo Paços foi escolhido Costinha, um nome grande do futebol português como jogador mas que não deixa de ser um treinador muito inexperiente. Aqui reside uma das decisões mais controversas da direcção e que está a gerar alguma contestação no clube. Costinha é um treinador que, pelo pouco que mostrou ao serviço do Beira Mar na época anterior, gosta de futebol ofensivo e jogo apoiado. Isto não seria problemático se o Paços não se tivesse destacado em 2012/2013 pela sua grande segurança defensiva. Ou seja, à mudança obrigatória de treinador, a direcção acabou por adicionar uma grande mudança de estilo de jogo da equipa. Em termos tácticos, Costinha mantém, no papel, o 4-3-3 mas, em campo, a equipa comporta-se de outra forma, muito desgarrada, a tentar impor velocidade quando tem a bola e com os sectores algo afastados o que faz com que o meio campo, verdadeira chave da anterior equipa de Paulo Fonseca, pressione menos a saída de bola adversária e apareça menos a apoiar a defesa. Não é de estranhar que o Paços tenha já encaixado 18 golos nos 7 jogos oficiais que disputou até agora, tantos como os sofridos nas primeiras 21 jornadas da época anterior. A atacar, é uma equipa algo previsível, tendo perdido, com a saída de Josué e Vítor, a capacidade de efectuar passes a rasgar a defesa. Parece agora apostar na velocidade dos seus alas e a maioria das suas jogadas acabam anuladas pela defesa adversária. Costinha parece ter compreendido isso e até já abordou o tema dizendo que talvez seja um treinador romântico demais. Talvez até por isso, não tem conseguido estabilizar a equipa base e parece estar ainda à procura do melhor onze. Pelas suas palavras, talvez comece até a procurar outra dinâmica de jogo. Numa equipa com tanta gente nova, é o pior que pode acontecer pois só vem adicionar mais instabilidade ao grupo.
André Leão foi dos poucos jogadores fundamentais que se manteve para esta temporada
Mas o Paços de Ferreira também se pode queixar da sorte. Todos os argumentos previamente utilizados são válidos mas saem diminuídos quando analisamos o calendário que os castores tiveram de enfrentar nestas 7 derrotas. Nas competições europeias jogaram por duas vezes contra o Zenit de São Petersburgo e uma contra a Fiorentina, equipas de outra dimensão futebolistica, com orçamentos estratosféricos quando comparados com os 3 milhões de euros do Paços e equipas a condizer. Para o campeonato nacional, em quatro jogos enfrentou aquelas que são talvez as melhores equipas do panorama nacional, Sp. Braga, FC Porto e Benfica tendo apenas enfrentado uma equipa do seu campeonato, o Olhanense, fora, num jogo muito equilibrado em que saiu derrotada pela margem mínima após ter tido as melhores oportunidades do jogo. Assim, as 7 derrotas acumuladas acabam por ser derrotas naturais. Mas são sempre 7 derrotas e não existe qualquer outro resultado pelo meio a contrabalançar o saldo. As derrotas são esperadas mas a equipa parece estar a perder confiança e a jogar pior de jogo para jogo, principalmente após sofrer um golo. Percebe-se que a maior dificuldade de Costinha tenha deixado de ser a construção da equipa para passar a ser a luta pela manutenção da confiança dos jogadores e principalmente a luta contra a instalação de uma cultura de derrota. O campeonato do Paços de Ferreira começa agora, com a recepção ao Vitória de Setúbal e é isso que Costinha estará a tentar meter na cabeça dos jogadores. Só os próximos jogos dirão se o treinador conseguirá levantar a equipa ou se esta se candidata a acabar a época a lutar para não descer de divisão.
Costinha depara-se com grandes problemas para resolver

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ambições Lusas na Europa

Nesta semana vamos assistir ao inicio da fase grupos das duas competições europeias de clubes, a Liga dos Campeões e a Liga Europa. Já foram disputadas as pré eliminatórias de acesso às fases de grupos e esses são jogos oficiais que fazem parte do calendário da UEFA mas, para a maioria dos adeptos de futebol, é aqui que começa a paixão dos jogos internacionais de clubes. Mas voltemos às pré eliminatórias. Nessa fase, as equipas portuguesas ficaram-se por um aproveitamento regular. O Paços de Ferreira, em estreia na Champions, teve pouca sorte no sorteio e acabou eliminado por um Zenit que se mostrou amplamente superior e o Braga caiu aos pés do modesto Pandurii da Roménia. Para o Paços, era o desfecho esperado e recebe a consolação de entrar directamente na fase de grupos da Liga Europa, podendo colocar uma linha na sua história que descreve uma honrosa participação na principal competição de clubes mas, para o Braga, a desilusão foi total. Era a equipa portuguesa da qual se esperava melhor performance na Liga Europa e nem a fase de grupos, objectivo mínimo para qualquer equipa que participa nestas competições, conseguiu alcançar. Pelo outro lado temos o Estoril que, em época de estreia internacional beneficiou de dois sorteios favoráveis para aceder aos grupos e Vitória de Guimarães que marca mais uma presença europeia no seu currículo internacional. Olhando um pouco mais para cima, por entre o brilho da Champions, encontramos as duas equipas mais fortes do nosso actual campeonato, Futebol Clube do Porto e Benfica, com entradas directas na fase de grupos e em estilo, aparecendo como cabeças de série no sorteio.
Paços de Ferreira não teve andamento para Witsel e o seu Zenit
O que pode então esperar o futebol português para esta temporada? Analisando os grupos, na Champions, FC Porto e Benfica, beneficiando do seu estatuto de cabeças de série conseguiram evitar os principais tubarões do futebol europeu e têm pela frente grupos que lhes permitem sonhar de forma legitima com uma presença nos oitavos de final da competição. Mas não devem ser olhados como grupos fáceis, principalmente o que saiu em sorte ao campeão nacional, com Atlético de Madrid e Zenit de São Petersburgo a apresentarem-se como duas equipas altamente competitivas e que possuem força suficiente para fazer frente aos dragões. O Benfica parece ter tido um pouco mais de sorte, tendo pela frente o milionário Paris Saint Germain, a equipa mais dificil do grupo, mas também um Olimpiakos que, não sendo fácil, está perfeitamente ao alcance das águias. Como quarta equipa, Anderlecht no grupo benfiquista e Austria de Viena no grupo portista serão equipas que, à partida, terão poucas hipóteses de acabar esta fase nos dois primeiros lugares do grupo mas que podem atrapalhar as ambições de quem quer que seja que perca pontos com elas. São as armadilhas de cada grupo. 
Os grupos para a Liga dos Campeões, edição 2013/2014

Na Liga Europa, a tarefa parece bem mais complicada para os representantes portugueses. Estoril terá pela frente equipas com maior andamento internacional das quais se destaca o Sevilha, candidato ao primeiro lugar do grupo mas também Slovan Liberec e Friburgo, mais acessiveis do que os espanhois mas igualmente com elevado grau de dificuldade para os canarinhos que decerto sentirão a falta de experiência como um grande entrave. O Vitória de Guimarães também está envolvido num grupo que, à partida, parece muito dificil, com Bétis de Sevilha e  Lyon a assumirem-se como candidatos naturais aos lugares de apuramento e com os croatas do Rijeka como equipa mais acessível. Já o Paços de Ferreira terá pela frente uma tarefa complicada, com a Fiorentina a brilhar num grupo em que é claramente favorita e ladeada por Pandurii, equipa que bateu o Braga com muita classe e pelos experientes ucranianos do Dnipro. 
Os grupos para a Liga Europa, edição 2013/2014

Todas os representantes nacionais terão de encarar as suas respectivas provas com realismo, tendo o objectivo claro de conseguir a qualificação nos seus grupos para atingir o primeiro jogo a eliminar, oitavos de final no caso da Liga dos Campeões e 16 avos de final na Liga Europa. Qualquer coisa acima disso deverá ser encarado por responsáveis, jogadores e adeptos, como uma vitória, algo acima das expectativas. Se para FC Porto e Benfica, o objectivo parece perfeitamente concretizável, já para os representantes lusos na Liga Europa, será uma surpresa. Mas o que interessa são os resultados e esses obtêm-se em campo, no relvado, e não comparando orçamentos ou historiais. Que todas estas equipas sonhem com o seu apuramento e lutem por ele. Parece dificil mas não impossível. Venham de lá os jogos.
O sorteio da Liga Europa não foi favorável às equipas portuguesas

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Um Derby à 3ª Jornada

A 3ª jornada da Liga Portuguesa de Futebol Profissional trouxe-nos um derby de relevo que cativou os adeptos, algo pouco comum nos últimos anos já que a condicionante de não haver jogos entre os clubes grandes até à 5ª jornada foi uma realidade das ultimas edições. O Sporting recebia o Benfica no seu estádio e isso é sempre um jogo carregado de significado e emoção. Mas este jogo prometia algo mais. Apesar de ser ainda muito cedo no calendário futebolistico nacional,o jogo apresentava alguns factores que o tornavam diferente do realizado pelas mesmas equipas nas últimas épocas. De um lado, encontrava-se um Sporting altamente motivado, vindo de duas vitórias claras e com perspectivas legítimas de vencer o rival e dar um empurrão definitivo para uma época de sucesso e, do outro lado, um Benfica altamente pressionado pelos próprios adeptos, vindo de uma derrota e de uma vitória arrancada a ferros, com esperança de vencer o derby para estabilizar a equipa de forma decisiva e relançar a candidatura ao título. Nada disso aconteceu. O resultado foi um empate que acaba por não encher a barriga dos adeptos de nenhuma das equipas.
Adrien e Enzo proporcionaram um interessante duelo na primeira parte
O jogo jogado teve poucas oportunidades de golo e não se mostrou de grande qualidade futebolistica  mas mostrou, contudo, alguns pontos interessantes sobre as duas equipas. Pelo lado do Sporting, notou-se melhor as ideias que Leonardo Jardim, o seu treinador, quer implementar. A aposta recai num meio campo subido, com 2 homens mais avançados a pressionar o portador da bola no inicio da fase de construção, escudados por um pivot defensivo puro que serve de pilar para a consistência do meio campo. Para estes papeis, Jardim escolheu William Carvalho, jogador revelação da equipa leonina durante a pré temporada para trinco, Adrien Silva e André Martins para elementos mais adiantados. Estes dois jogadores ocupavam posições semelhantes mas apresentavam uma dinâmica diferente. André Martins subia mais quando a equipa tinha a bola mas logo recuava para uma posição semelhante à de Adrien quando esta a perdia, mas não era um verdadeiro número 10, não aparecendo para assumir a organização de jogo mas sim para combinar com os 3 homens da frente em jogadas rápidas e de poucos toques na bola. Estes dois jogadores foram os responsáveis pelo domínio Sportinguista na primeira parte e não deixavam Matic ou Enzo Perez respirar sempre que estes recebiam a bola, obrigando a que a entregassem em más condições e atrapalhando ou matando grande parte das jogadas benfiquistas. O Sporting jogou bem mas não me parece que André Martins e Adrien sejam jogadores para este tipo de jogo durante 90 minutos, principalmente o primeiro, apesar de tacticamente forte, vai perdendo disponibilidade física de forma evidente ao longo do jogo. A prestação de Freddy Montero é outro ponto a destacar nos leões mas agora a nível individual. O colombiano foi o homem mais avançado do Sporting e mostrou que tem qualidade. Marcou um bom golo mas foram as suas movimentações que me impressionaram. Aqui mostrou ser um jogador inteligente a fugir à marcação e a abrir espaços para os seus colegas. Sabe também recuar para  entrar no jogo colectivo, normalmente em pequenos toques e tabelas com os médios, logo aparecendo de novo na zona de finalização. Um jogador a fazer lembrar Liedson nos seus tempos áureos de verde e branco.
Montero festeja o primeiro golo da partida.
Do lado do Benfica, Jorge Jesus apostou numa das suas habituais tácticas, em 4-4-2, com a nuance de ter Gaitan como falso médio ala, a partir do flanco esquerdo para o centro assumindo-se como um número 10 nas costas dos móveis Lima e Rodrigo, dupla de avançados com quem deveria combinar ao longo das suas deambulações. Penso que a ideia de Jorge Jesus era pressionar a defesa leonina com a mobilidade dos seus dois avançados que abririam espaços para as entradas de Gaitan e até de Salvio, este também a descair mais para a zona central do que é habitual mas é difícil avaliar se esta era uma boa ideia do treinador encarnada visto que, na primeira parte, a equipa não teve muita bola para desenrolar este tipo de lances e depois Gaitan e Sálvio tiveram de sair por lesão. Confrontado com 3 lesões e a perder o jogo, Jorge Jesus não teve medo e passou a jogar num claro 4-2-4, lançando Markovic para a direita do ataque e Cardozo para o centro, o que levou Rodrigo a descair para a esquerda e apostou num futebol mais directo. Foi uma boa leitura de jogo pois permitiu que a bola passasse menos tempo no meio campo, onde o Sporting dominava e caísse mais vezes nos avançados das águias que combinavam entre si para abrir buracos na defesa leonina. Este sistema obrigou William Carvalho a recuar para ajudar a sua defesa e fez com que o meio campo sportinguista passasse a estar mais tempo numa situação de 2 para 2 ao invés da superioridade numérica de 3 para 2 da primeira parte. Isto, aliado ao esgotamento físico de André Martins fez com que o Benfica ganhasse o domínio de jogo e acabasse por empatar, curiosamente numa jogada individual. Destaque-se também no Benfica o regresso de Cardozo aos relvados, ainda muito fora de forma e a entrada de Markovic que mostrou excelentes pormenores e pode-se tornar num caso sério deste campeonato.
Markovic arranca para uma vistosa  jogada individual que culminaria com o golo do empate
O empate acaba por ser o resultado justo num jogo de pouca qualidade futebolistica mas de muita qualidade táctica. Leonardo Jardim e Jorge Jesus ofereceram um grande duelo de treinadores com o técnico dos leões a montar melhor a equipa e com Jorge Jesus a ler melhor o jogo, com este em andamento. Para as equipas, o empate não foi a vitória que o Benfica precisava para afastar definitivamente a pressão e para o Sporting não chegou para dissipar as dúvidas sobre se a equipa será realmente candidata a chegar ao fim do campeonato na disputa do título. 

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A Panela de Pressão

Estava a pensar no que se está a passar no actual Benfica quando me lembrei de um episódio do nosso futebol. Certo dia, perguntaram a Carlos Manuel, no já longínquo ano de 1997, qual o segredo para o bom futebol que a equipa treinada por si na altura, o Salgueiros, apresentava, já que o plantel era praticamente o mesmo da época anterior. Carlão respondeu de forma descontraída, dizendo que o principal era que os jogadores tinham prazer em jogar futebol e se divertiam a fazê-lo. Parecia uma resposta evasiva a qualquer segredo táctico mas continha em si uma grande verdade por vezes esquecida. Um conjunto de jogadores descontraído treina melhor durante a semana e joga melhor quando chega a altura dos jogos, isto quando comparado com o mesmo conjunto pressionado, claro está, já que a valia individual e a organização colectiva continuam a ser os pilares de uma boa equipa. Voltando ao Benfica, penso que está hoje no extremo oposto ao episódio descrito. Os principais jogadores da época passada ficaram, as lacunas do plantel foram resolvidas com a contratação de novos jogadores, o treinador é o mesmo, o sistema táctico usado não foge aos sistemas tácticos usados anteriormente, mas o futebol apresentado é muito diferente. Para pior. A equipa  rende menos, parece amarrada e até a grande vertigem dos seus jogos de épocas anteriores, causada pela velocidade que impunha ao seu jogo, desapareceu. Não me parece que os jogadores estejam de cabeça limpa e os episódios de indisciplina vão-se acumulando, como se viu no último jogo em casa, frente ao Gil Vicente em que Gaitan reage mal a ser substituído e onde o capitão Luisão se desentende com os adeptos, protestando com estes de forma bem visível. O que se passa é que a equipa está pressionada.
Tantas vezes a grande força do Benfica, os adeptos são também o seu maior inimigo

O final da época passada foi terrível para o Benfica. Após ter chegado ao final da época a disputar três competições, apresentando legítimas aspirações de as vencer a todas, acabou por não ganhar nenhuma. Talvez mais do que isso, aos adeptos doeu a forma como as perdeu. O campeonato em pleno Estádio do Dragão frente ao grande rival FC Porto, sofrendo o golpe fatal nos descontos de um jogo eléctrico, perdendo a final da Liga Europa, de novo nos descontos e sendo derrotado na final da Taça de Portugal por um Vitória de Guimarães que nunca se mostrou superior. E aqui, no Jamor, talvez por ter sido o último jogo da época, caiu a gota de água que fez transbordar o copo. Cardozo desentende-se com o treinador Jorge Jesus à frente de todos e os adeptos mostram claramente que perderam a paciência. Jorge Jesus, após quatro anos ao leme da equipa, parece ter perdido todas as condições para o continuar a fazer.  Neste ponto começa a responsabilidade da direcção do Benfica, talvez a principal culpada da situação actual em que a sua equipa de futebol está envolvida. Luís Filipe Vieira e seus pares deveriam ter tomado uma posição forte e, principalmente, rápida no que respeita à manutenção ou não da equipa técnica. Pelo contrário, deixou arrastar a decisão, deixando que se transformasse num caso, amplamente explorado pelos media e que foi criando uma divisão nos adeptos encarnados, aumentando o número e o ruído dos que pediam a sua saída. Acabou por decidir manter o treinador renovando o seu contrato por mais dois anos mas o mal estava feito. Os muitos adeptos que pediam a sua cabeça estavam agora à espera que falhasse de novo para se voltar a manifestar. 
Cardozo interpela Jorge Jesus após a derrota na Taça de Portugal
De seguida, acaba por não ser célere a resolver o caso Cardozo. Após o que aconteceu no final do jogo do Jamor, entre Cardozo e Jorge Jesus, dificilmente seria de esperar que ambos se mantivessem no clube e, após a renovação do treinador, ficou claro que Cardozo teria de sair. Mais uma vez, a direcção do Benfica não foi firme na resolução deste caso, talvez com medo de perder um activo do clube por pouco dinheiro, e deixou-o empolar, de novo dividindo os adeptos, agora de forma muito mais desequilibrada, com a maioria a pedir que o paraguaio fique no clube, algo que ainda nem ficou totalmente decidido. Com isto, gerou-se uma pressão enorme sobre o Benfica que ficou proibido de errar. Essa pressão sentiu-se na pré-temporada onde a equipa jogava jogos amigáveis sobre brasas, muitas vezes assobiada pelos próprios adeptos que não lhe davam qualquer margem de erro. Os resultados de jogos da pré temporada, coisa que normalmente, pouco interessa, tornaram-se grande motivo de análise e mais uma vez o rendimento da equipa foi questionado.
Treinador e equipa têm estado debaixo de uma intensa pressão

Não foi, assim, surpresa a forma como o Benfica se apresentou para o seu primeiro jogo oficial frente a um difícil Marítimo. Jogou sem dinâmica ofensiva e com muito nervosismo defensivo e o resultado foi uma derrota à primeira jornada. Neste momento, já o Benfica se assemelhava a uma panela de pressão, com esta sempre a aumentar e com os seus intervenientes principais no papel de ingredientes, a serem cozinhados por uma massa associativa que já não tolera mais falhas. O Benfica precisava de vitórias urgentemente e a primeira aconteceu em casa, à segunda jornada. Mas a vitória, aqui, já não chegava. O Benfica precisava de uma vitória clara, sem contestação mas, mesmo tendo sido amplamente superior a um Gil Vicente que pouco atacou, viu-se a perder, sofrendo golo num lance algo caricato, que transmitiu a ideia de ter acontecido devido ao nervosismo dos jogadores, e acabou por vencer o jogo marcando dois golos no período de compensação. A vitória tirou alguma pressão à panela mas não a suficiente. Esta ainda cozinha. Sem a celeridade na resolução dos casos acima descritos, a direcção do Benfica acabou por fazer com que o final da época de 2012/2013, se tenha arrastado para o principio da época de 2013/2014, quase come se fossem a mesma temporada.

Alvalade será o palco de um derby que promete ser explosivo
E agora, chegando à terceira jornada, o Benfica entra num verdadeiro campo minado. A ida a Alvalade para enfrentar um Sporting líder do campeonato e extremamente motivado, apresenta-se como uma armadilha tremenda e ameaça fazer rebentar a panela de pressão, com possíveis consequências para a sua equipa técnica e para as aspirações ao título. Mas aqui, apresenta-se também a oportunidade dourada de esvaziar a pressão e relançar uma candidatura ao título de forma definitiva. Para o fazer, o Benfica teria de ir a Alvalade e derrotar o seu eterno rival e isso não se afigura tarefa fácil. Olhando para a valia individual de ambas as equipas, o Benfica tem condições para o fazer mas, para isso, tem de conseguir entrar em campo de cabeça limpa e aqui está, talvez, o maior desafio de Jorge Jesus. Conseguirão as águias abrir a panela de pressão ou esta explodirá nas suas mãos? O derby desta jornada poderá conter a resposta. 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

COMEÇOU!

O mês de Agosto transporta uma certa magia no ar e possui um significado diferente para muita gente. Para a maioria das pessoas significa férias, um escape ao mundo real, para as crianças é o mês em que não precisam ter a cabeça na escola e até para quem trabalha nas grandes cidades significa menos trânsito, menos confusão. É o mês em que os típicos emigrantes aproveitam para voltar ao seu país e o Portugal profundo se enche de festas e bailaricos para os receber. Mas é também um mês especial para os adeptos de futebol. É o mês onde começa a nova época futebolística. Acaba a espera e o aborrecimento dos jogos amigáveis com as suas múltiplas substituições e paragens. Acaba a especulação sobre o real valor da sua equipa e dos adversários. Acaba a espera. Começaram os jogos a sério.
FC Porto começou a temporada 2013/2014 como acabou a de 2012/2013, a levantar troféus.
2013/2014 começou como sempre começa, com a disputa da Supertaça, relativa ao vencedor da Liga da época anterior e o vencedor da Taça de Portugal, Futebol Clube do Porto e Vitória de Guimarães, respectivamente. Troféu disputado em campo neutro, desta vez o palco foi Aveiro, serve muitas vezes como um prenúncio do que será a época e este ano não fugiu à regra. Não serviu para mostrar que o FC Porto é mais forte do que o Vitória minhoto, isso era esperado, mas, pela forma folgada como os azuis e brancos conquistaram o troféu, serviu para acentuar uma realidade cada vez mais presente no futebol português. A de que existe um campeonato à parte, o da disputa pelo título, onde os crónicos candidatos das últimas temporadas, FC Porto e Benfica, se afastam cada vez mais dos seus adversários em valia. Mas será mesmo assim? A primeira jornada pareceu demonstrar que não.
Quintero festeja o golo que deitou por terra as esperanças sadinas

O FC Porto, após levantar o primeiro troféu da época, apresentou-se em Setúbal como super favorito à conquista dos 3 pontos mas, apesar do resultado final ter correspondido à expectativa, encontrou grandes dificuldades e precisou de um verdadeiro hara-kiri da equipa do Vitória de Setúbal para chegar ao 3-1 final. Não tivesse sido o penalti escusado e a expulsão evitável do guarda redes sadino e a história do jogo poderia ter sido outra. Ah...e o golaço de Quintero, novo menino bonito dos Dragões, também entrou na equação. Na Madeira, o Benfica entrou nos Barreiros ainda amarrado ao final de época penoso de 2012/2013 e apresentou um futebol de pouca qualidade, sem rasgo ou até velocidade, verdadeira imagem de marca das últimas épocas, e acabou por cair aos pés do Marítimo que apenas precisou de 3 oportunidades para marcar 2 golos e matar o jogo. A pressão aumentou ainda mais e, caso não estabilize nas próximas jornadas, promete transformar o estádio da Luz numa verdadeira panela de pressão onde a equipa encarnada e o seu treinador serão cozinhados por uma massa adepta exigente e que não esquece a hecatombe das últimas semanas da época anterior.
Jorge Jesus sentiu a pressão sobre a sua equipa materializar-se em derrota nos Barreiros

Olhando para as outras equipas, viu-se um Sporting de Braga personalizado, seguro de si, levar de vencida sem grande dificuldade um Paços de Ferreira que, após a brilhante temporada de 2012/2013, se encontra em reconstrução e luta para reencontrar a sua identidade.Agora liderado pela inexperiente dupla Costinha/Maniche, perdeu várias pedras basilares e não parece estar em condições de fazer mais do que uma época sem sobressaltos. Em Alvalade, o Sporting apareceu altamente moralizado e com um grande apoio dos seus adeptos que parecem ter voltado a sentir o entusiasmo de outros tempos. Esmagou o estreante Arouca por um claro 5-1 e promete arrancar para uma época bem melhor do que a do ano anterior onde obteve a sua pior classificação de sempre. Sporting e Sporting de Braga são duas equipas treinadas por treinadores experientes, habituados a ganhar e que sabem jogar com a realidade dos clubes que comandam. Prometem intrometer-se na luta pelo título e isso seria óptimo para o futebol portugûes. Só o tempo e o decorrer das próximas jornadas poderão dizer quanto realmente valem estas equipas mas a promessa que deixaram é animadora.
Montero foi o grande herói de Alvalade ao apontar 3 golos

No outro extremo do espectro, o Belenenses, regressado à Primeira Liga após ter conquistado a competitiva Segunda Liga de uma forma invulgar, fazendo-o com grande distância dos outros concorrentes, mostrou-se uma completa desilusão e acabou goleado em casa por uma das equipas que promete fazer um campeonato ao nível do anterior, ou talvez até melhor. O Rio Ave, no Restelo, mostrou o porquê de querer reclamar o titulo de equipa sensação de 2013/2014. Tem equipa para isso e Nuno Espírito Santo parece ser também o homem indicado para o fazer a partir do banco. Vai ter a concorrência de mais algumas equipas, das quais se destaca o Estoril que venceu o seu jogo em casa frente ao Nacional de forma clara e parece estar já em fase muito avançada de reconstrução do seu plantel, após ter perdido as suas principais figuras. O Vitória de Guimarães, após tão fraco desempenho no jogo da Supertaça venceu um Olhanense que se apresenta algo confuso, em profunda remodelação e cuja extravagância de Abel Xavier, agora treinador, se apresenta como o grande foco de atenção. Os algarvios são, a par do Arouca, a grande incógnita desta temporada e é muito cedo para se perceber o que realmente valem. Gil Vicente e Académica encontraram-se em Barcelos e venceu a equipa da casa. Os Gilistas, com treinador novo, parecem estar bem preparados e a Académica, desiludindo, não mostrou muito daquilo que quer para a sua temporada, ou seja, um ano tranquilo. Sérgio Conceição tem valor e equipa para muito mais.
Abel Xavier no banco do Olhanense


A verdade é que é ainda muito cedo para se poder tirar conclusões definitivas sobre o que será o desempenho das equipas ao longo do campeonato. Se nos lembrarmos da primeira jornada da temporada anterior, FC Porto e Benfica empataram e isso não os impediu de terem protagonizado uma das mais renhidas corridas de sempre ao título, deixando toda a concorrência a anos luz de distância. Estoril perdeu e não foi por aí que deixou de fazer uma época sensacional, atingindo uma inédita qualificação europeia e até o Paços de Ferreira iniciou a temporada com um modesto empate em casa frente a uma das equipas que haveria de descer de divisão não dando indícios de que conseguiria um surpreendente 3º lugar final. A grande virtude desta jornada é que abriu o apetite para as próximas. Começou...venham de lá mais jogos!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Época 2012/2013 – Showtime!

Kelvin protagoniza o momento da temporada
No dia 11 de Maio de 2013, jogava-se a penúltima jornada da Liga 2012/2013. Em pleno Estádio do Dragão, ao nonagésimo segundo minuto de um emocionante mas empatado jogo entre o Benfica, à data primeiro classificado do campeonato e o anfitrião Futebol Clube do Porto, segundo classificado, Kelvin, entrado 13 minutos antes na equipa dos Dragões, recebe a bola de Fernando ainda no seu meio campo e, apanhando os encarnados em contra pé, penetra no meio campo adversário onde realiza uma excelente triangulação com Liédson e, após receber a bola de volta, pressionado por Roderick na quina da grande área, dispara uma bomba de pé esquerdo que entra no poste mais distante da baliza de Artur Moraes. Jorge Jesus ajoelha-se, Vítor Pereira corre sem destino e o estádio explode em festejos. Foi, sem dúvida, o momento da época e foi tão imprevisível e emocionante que parecia saído de um qualquer argumento para o último episódio de uma série de televisão. E, avaliando a temporada que passou como um todo apercebemo-nos que foi o momento perfeito, cores clubisticas à parte, para culminar uma temporada em que se lutou jogo a jogo pelo título, numa épica corrida a dois em que nenhum teimava em largar o outro. Futebol Clube do Porto e Benfica provaram que estão bem acima de qualquer outra equipa do campeonato e, juntos, conquistaram a vitória por 48 vezes, apenas permitiram 11 empates e uma derrota, precisamente neste jogo, entre eles, como não podia deixar de ser. Protagonizaram uma corrida espectacular, com poucos casos e muito futebol e esta só poderia culminar desta forma. Ganharam os azuis e brancos mas fica a sensação que poderia ter sido qualquer um dos dois.
Jorge Jesus de joelhos com Vitor Pereira em êxtase em segundo plano
Mas a temporada não foi imprevisivel apenas pela épica corrida ao título. Quem diria, no inicio da Setembro de 2012, que o terceiro classificado, lugar que dá acesso à pré-eliminatória da Liga dos Campeões, iria ser conquistado pelo Paços de Ferreira, após tremenda luta com o Sporting de Braga? Mesmo adivinhar que o recém promovido Estoril iria conseguir terminar em quinto lugar e, assim, obter o acesso à Liga Europa seria um feito digno do mais fanático adepto canarinho. Nem sequer seria credível prever que o Sporting iria culminar em sétimo lugar uma temporada tão má, onde chegou a roçar os lugares de despromoção, luta essa que apenas conheceu o seu desfecho, na última jornada, acabando por sacrificar Moreirense e Beira-Mar. Foi uma época atípica, recheada de emoção em todas as suas diferentes guerras e não é difícil chegar-se à conclusão que assistimos a uma das melhores épocas que a Liga já nos ofereceu.
Paços de Ferreira superiorizou-se a Braga e vai à Champions

Bem sei que nós, adeptos de futebol português, temos uma grande dificuldade em despir a camisola do nosso clube e olhar friamente para um jogo ou para uma temporada inteira mas, se tentarmos fazer isso por uns breves momentos, facilmente nos apercebemos  que aquilo que clamamos constantemente para o nosso futebol foi-nos servido esta temporada em grande quantidade. Emoções fortes, imprevisibilidade, interesse por todos os “episódios” e até futebol de qualidade. Que mais poderíamos desejar? A vitória do nosso clube, claro. Mas futebol é isso mesmo e a ultima época, foi digna de Hollywood! Showtime!
FC Porto levanta o título de campeão na última jornada

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Seis pontos explosivos

 
A classificação da Liga Zon Sagres, a duas jornadas do fim
Seis. O número mágico da Liga Zon Sagres, corresponde ao número de pontos que faltam disputar e que irá decidir o que falta decidir. E aqui está o grande motivo de interesse da liga 2012/2013. É que, a duas jornadas do fim, tudo está por decidir e não apenas por falta de confirmação matemática. Neste momento, desde a atribuição do título de campeão à despromoção, passando pela qualificação para as competições da UEFA, tudo pode acontecer e, apesar de existirem favoritos, apostar em alguém será sempre assumir um risco. A duas jornadas do final, é difícil imaginar um campeonato tão interessante.
A luta pelo título, já por muitos dada como praticamente fechada desde que o primeiro classificado, o Benfica, conseguiu segurar a sua vantagem de 4 pontos frente a Sporting e Marítimo, ficou totalmente relançada com o empate dos encarnados em pleno estádio da Luz com o Estoril, a uma bola. A vantagem para o Futebol Clube do Porto, segundo classificado, reduziu-se de quatro para dois pontos mesmo antes do clássico entre estas duas equipas no estádio do Dragão e fez com que ambas passem a depender apenas do que cada uma delas possa fazer para chegar ao título. O Benfica tem vantagem por estar a liderar o campeonato e poder empatar o jogo sem beliscar a sua candidatura ao título mas o FC Porto joga em casa e viu a sua força anímica ser elevada pelas circunstâncias descritas. Só a vitória interessa aos dragões e a motivação extra pode ser o factor decisivo contra um Benfica que apresenta já sinais de cansaço em algumas das suas pedras fundamentais, algo natural se tivermos em conta a difícil meia final da Liga Europa que teve de enfrentar.  Apenas uma vitória benfiquista pode servir de ponto final à atribuição do título de campeão mas o FC Porto sabe que se ganhar, entrará na ultima jornada na liderança, assim será de esperar um jogo emocionante, com um ambiente a pisar a linha entre o espectacular e o infernal. Apenas uma certeza. À hora do jogo, Portugal terá os olhos pontos no Dragão.
O Estádio do Dragão será o palco da luta pelo título
Se conseguirmos tirar os olhos da luta pelo título, logo encontramos outra de grande interesse. O terceiro lugar da classificação, que dará acesso à pré-eliminatória da Liga dos Campeões, está a ser disputado há já alguns meses entre o candidato natural Sporting de Braga e o surpreendente Paços de Ferreira. Os castores nunca sonhariam, no inicio da temporada, que poderiam chegar a esta altura do campeonato envolvidos nesta disputa mas a verdade é que, ocupando o terceiro lugar da classificação e com quatro pontos de avanço, são os grandes favoritos. Para isso precisam de vencer a aflita Académica de Coimbra nesta jornada de forma a evitar precisar de pontuar na ultima jornada, onde enfrentarão o Futebol Clube do Porto na Mata Real. É bem possível que o façam mas o Paços tem os pés bem assentes na terra e é daquelas equipas que não espera pelo dia de amanhã. Se conseguir resolver já, melhor. O Braga ainda sonha e tem razões para isso. Recebe o descansado Nacional da Madeira e acaba o campeonato em Setúbal onde o Vitória local, apesar de ainda estar envolvido na luta pela manutenção, está muito perto de a garantir e pode até nem precisar de pontuar no ultimo jogo. Os guerreiros do Minho esperam uma escorregadela do Paços de Ferreira em Coimbra onde a Académica, agora liderada por Sérgio Conceição pode aplicar o seu contra ataque venenoso para capturar um ou até os três pontos e assim, fugir à despromoção. Esta jornada pode decidir tudo.
Paços e Braga têm mantido uma luta acesa pelo acesso à Champions
Logo abaixo, está a luta pelo acesso à Liga Europa. Apesar de Portugal ter direito a três vagas, na realidade, apenas uma está em disputa. Quem perder a luta pelo acesso à Champions tem já garantida uma vaga para a Liga Europa e o Vitória de Guimarães, por via do acesso à final da Taça de Portugal frente a uma equipa que já garantiu o acesso europeu, tem também uma das vagas para a Liga Europa garantida, independentemente da sua classificação final. Acaba por ser curioso que, não tivesse ainda a vaga garantida, seria o principal candidato ao acesso europeu, já que ocupa o quinto lugar da classificação. Mas, esquecendo o vitória minhoto, sobram três equipas para um lugar. Estoril, Rio Ave e Sporting. Os leões andaram sempre por baixo na classificação mas chegam à fase decisiva do campeonato neste grupo que tem vindo a emagrecer nas ultimas jornadas já que Marítimo e Nacional não aguentaram a pedalada e ficaram para trás. Para quem se aguentou, será uma discussão sobre se o copo está meio cheio ou meio vazio. Para o Sporting representa a salvação para uma época desastrosa e o cumprimento de um objectivo, mesmo que o mais pequeno de todos. Para Estoril e Rio Ave, pelo contrário, esta vaga representa o coroar de uma grande temporada. O favorito à conquista desta ultima vaga é mesmo o Estoril que, se vencer o aflitíssimo Beira-Mar em casa, finaliza a discussão. Parece que teremos um copo meio cheio no final do campeonato mas só os seis pontos em disputa o dirão.
Jefferson festeja o golo que relançou a luta pelo título e concedeu favoritismo ao Estoril na luta pelo acesso à Liga Europa
Continuando a fazer descer os olhos pela classificação, saltamos as duas equipas da Madeira, Marítimo e Nacional, as únicas que não estão envolvidas em qualquer luta neste campeonato e encontramos a luta que envolve mais clubes. A manutenção. É quase tradição que, nesta fase do campeonato, uma das vagas de despromoção esteja já preenchida e dois ou três clubes lutem por fugir à restante mas não nesta temporada. Este ano, nada menos do que seis equipas se encontram envolvidas nesta luta fatídica e qualquer uma delas pode descer de divisão. Claro que não estão em pé de igualdade. A Académica de Coimbra, a quatro pontos da linha de água, está muito perto de garantir a manutenção mas, logo abaixo, Vitória de Setúbal com 3 pontos de vantagem, Gil Vicente com dois e Olhanense com um, lutam como podem para fugir aos dois últimos lugares, ocupados por Beira-Mar e Moreirense, este ultimo a 3 pontos da manutenção e o que está em pior situação. É curioso verificar que as duas últimas jornadas apresentam apenas um jogo entre equipas deste grupo. Significa isto que que a luta pelos últimos pontos terá de ser feita contra equipas que se têm mostrado mais fortes e que estão, na sua maioria envolvidas nas suas próprias lutas. Não  será muito natural que alguma destas seis equipas consiga capitalizar os seis pontos em falta e a luta pela manutenção será, à semelhança das outras acima descritas, tão imprevisivel como interessante.
O Beira-Mar é uma das equipas que corre para fugir à despromoção
Não deixará de ser praticamente impossível passar o próximo Sábado concentrado na Liga Zon Sagres. Pena que, com a grande maioria dos jogos disputados à mesma hora, seja impossível ver algumas destas lutas mais de perto mas a competição assim o dita. A indefinição é muita e o interesse também.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Quanto vale a Taça da Liga?

Troféu da Taça da Liga para 2012/2013
Criada na época de 2007/2008, por proposta do Sporting e do Boavista, a Taça da Liga, cuja ideia tinha recolhido inspiração em competições semelhantes noutros países europeus, dos quais se destaca a Inglaterra, propunha-se a ser uma competição que gerasse mais receitas quer para os clubes quer para a Liga de Futebol Profissional. Além disso propunha-se a que se  criassem oportunidades para a utilização de alguns valores que, de outra forma, estariam tapados no campeonato principal ou até na Taça de Portugal, competição que, possuindo o formato de jogos eliminatórios desde a ronda inicial, possui o risco de proporcionar poucos jogos à maioria dos seus participantes, e também a ocupar o espaço no calendário futebolistico nacional anual criado pela redução do número de clubes na Primeira Liga e, até à corrente temporada, na Segunda Liga. Compreende-se assim que, face ao previsível alargamento da Primeira Liga na próxima temporada de novo para 18 clubes, a existência da competição tenha sido posta em causa, facto que a Liga prontamente desmentiu. No entanto, a dificuldade na obtenção de patrocinadores para a competição não pode deixar de preocupar a entidade organizadora e a pôr em risco a sua continuidade.
Como terceira competição mais importante do panorama futebolístico Português e até tendo em conta a sua criação ter sido recente, é um troféu que se apresenta como pouco prestigiante e que recolheu, principalmente nos seus primeiros anos, alguma desconfiança por parte de alguns dos clubes integrantes, dos quais se destaca o Futebol Clube do Porto, clube que até chegou a apresentar-se em campo, numa das edições, com um misto de jogadores reservistas e júniores, desde o seu inicio de participação até à sua eliminação numa meia final disputada em Alvalade contra o clube da casa, o Sporting. Mas com o passar das temporadas, é normal que esta competição se vá enraizando e ganhando, pouco a pouco, o prestigio que naturalmente lhe falta. É até normal falar-se na vitória final como uma forma de salvar a época, algo que só pode ser visto como uma valorização da prova.
A efusiva festa da entrega do troféu
Esta época, a competição foi levada a sério por todos os seus participantes, mesmo tendo em conta que muitos utilizaram alguns jogadores habitualmente suplentes e acabou por representar algo diferente para os dois clubes que atingiram a final. Para o Futebol Clube do Porto, eliminado da Taça de Portugal e da Liga dos Campeões mais cedo do que os seus adeptos esperavam e com a renovação do título nacional em sério risco, a conquista da Taça da Liga era vista como um pequeno prémio que, não salvando totalmente a época, sempre inscrevia a temporada 2012/2013 na sua história de títulos que nos últimos 30 anos está bem recheada. Para o Sporting de Braga era a realização do sonho do seu presidente. António Salvador, de conquistar um troféu oficial durante o seu mandato e, mais do que isso, a concretização material do crescimento desportivo  que, nos últimos 10 anos, tem sido inegável, marcando-o na história do futebol português.
António Salvador, presidente do Braga, festeja a concretização de um sonho pessoal
Esta competição possuía também uma representação mais pessoal. Para Vítor Pereira, sempre muito criticado pelos adeptos azuis e brancos, significava um escape e a possibilidade de engrossar a sua defesa com o facto de ter ganho sempre troféus nas temporadas em que dirigiu o clube. Para José Peseiro, também há muito alvo de criticas dos adeptos do Braga, significava um grito de revolta pela criação de alguma ideia de injustiça face às criticas e também o afastamento da fama de “pé frio” que o persegue. Seria, para ele, a conquista do primeiro troféu de uma carreira que já vai sendo longa e com passagens por clubes de topo. Numa final muito disputada mas com pouca qualidade futebolística, acabou por ganhar o Braga e, no fim, a festa do vencedor, desde os seus adeptos aos seus dirigentes, passando pelos jogadores e equipa técnica, ajudaram ao crescimento da importância da competição. Até as lágrimas de Peseiro, muito emocionado no fim do jogo, deram algum drama ao evento e ajudaram ao acumular gradual de prestigio da competição. Que esta dure muito tempo e que continue a crescer de forma a valer cada vez mais para clubes e adeptos.
Braga saiu à rua para festejar a conquista da Taça da Liga

quinta-feira, 11 de abril de 2013

O Braga de Peseiro

António Salvador apresentou José Peseiro para guiar o Braga em 2012/2013
O crescimento desportivo do Sporting de Braga nos últimos anos tem sido algo incontornável no futebol português e até internacional. Passou de equipa do meio da tabela, por vezes a braços com a luta pela manutenção, para um "pequeno grande" do futebol português, frequentemente candidato ao título nacional e permanentemente candidato a uma presença na Liga dos Campeões. Esse crescimento deve muito à gestão cuidada da direcção liderada por António Salvador que conseguiu equilibrar as contas do clube mas também ao trabalho excepcional de alguns dos treinadores que passaram pelo banco minhoto, destacando-se Jesualdo Ferreira, Jorge Jesus, Domingos Paciência e Leonardo Jardim. Foi com estes dois últimos que o Sporting de Braga atingiu aquele que, até agora, é o seu pico desportivo. Não deixa de ser curioso que, para liderar o ataque à época 2012/2013, Salvador tenha escolhido José Peseiro, um treinador que representa uma antítese face ao estilo de Domingos Paciência e Leonardo Jardim. Ao contrário destes dois treinadores, Peseiro não é alguém relativamente inexperiente, que vivia uma curva ascendente na sua carreira. É antes um treinador experimentado, com experiência internacional a nível de clubes e de selecções e que tinha tido uma passagem marcante por um dos grandes do futebol nacional, o Sporting. Mais importante do que isso, Peseiro é um treinador com uma filosofia de jogo marcadamente ofensiva, que dá mais importância à qualidade do futebol em posse do que aos movimentos defensivos. Ao contrário dos seus dois antecessores, excelentes a montar equipas para saber jogar sem bola e tirar o máximo partido das transições ofensivas quando a recuperam, Peseiro é um treinador de domínio de jogo e não de controle de jogo. Isso fez com que o Sporting de Braga desta temporada, sem recorrer a grandes revoluções no seu plantel, quebrasse com as mecânicas de jogo incutidas durante três temporadas. É um trabalho sempre ingrato para quem chega e que se notou nas primeiras jornadas onde o Braga perdeu demasiados pontos e cedo se percebeu que não seria o candidato ao título com que Salvador sonhava. Foi o primeiro desaire desta equipa mas não o único.
José Peseiro aponta sempre à baliza adversária
O Braga, após ter assimilado as ideias do seu treinador tornou-se na típica equipa de Peseiro com todas as suas virtudes e, principalmente defeitos. É inquestionável que se tornou uma equipa ofensiva, marcando uma grande quantidade de golos, muitas vezes a culminar jogadas bem trabalhadas, com movimentações colectivas a mostrar uma grande organização ofensiva. Leva já 53 golos marcados na Liga Zon Sagres, mais 30 golos do que os 23 marcados até à mesma jornada da temporada anterior, um número que não deixa dúvidas. No entanto, ao contrário da época passada em que ocupava o terceiro lugar a um ponto do segundo classificado e a cinco do líder, encontra-se esta época em quarto lugar, a milhas da luta pelo título e a três do terceiro classificado, o surpreendente Paços de Ferreira. O que está, então, a correr mal?  Para encontrar a resposta a esta pergunta teremos sempre de começar por analisar a estatística oposta. O Braga de Leonardo Jardim, na temporada passada, tinha sofrido apenas 14 golos à jornada 26, o que contrasta com os 37 sofridos nesta temporada. O saldo até é melhor nesta temporada, com 16 golos positivos face aos 9 da temporada anterior, mas esta pequena vantagem dilui-se quando vemos que o Braga de Peseiro sofreu golos em quase todas as partidas e que oscilou algumas goleadas com uma grande quantidade de derrotas tangenciais. Das oito derrotas sofridas, apenas três delas tiveram uma diferença maior do que um golo no marcador. Pelo meio há ainda resultados quase surreais, como os empates a 4 bolas com o Olhanense em casa e a 3 com o Beira-Mar, este último em Aveiro. E aqui reside o grande problema do Braga desta época. A incapacidade para controlar o jogo, um defeito que as equipas de Peseiro sempre apresentaram. É normal ver o Braga adiantar-se no marcador, jogando bom futebol e desaparecer a meio da segunda parte, acabando por deixar fugir pontos nos últimos minutos de jogo. A equipa tem grande dificuldade em defender mantendo a bola. Fica presa num limbo querendo defender recuando as linhas sem bola, qual equipa pequena em aflição no jogo, e sair com muita gente para o ataque quando a recupera, expondo-se a contra ataques sem necessidade. O jogo com o Sporting em casa, na jornada 25 é paradigmático disto, onde jogando contra 10 jogadores e parecendo ter tudo para ganhar o jogo, acaba por o perder nos descontos. Talvez tendo-se apercebido disso, para o Dragão, na última jornada, Peseiro tentou montar uma equipa com vista a controlar o jogo a meio campo e, apesar de ter sido esmagada na luta pela posse de bola, até o estava a conseguir fazer mas este tipo de futebol já não está na cabeça dos seus jogadores e o seu jogo foi-se afundando, principalmente quando o Futebol Clube do Porto quis abanar a partida apostando na entrada de extremos rápidos. Peseiro tenta responder da pior forma possível tirando um jogador que sabe segurar a bola, Mossoró e lançando Carlão, um ponta de lança puro cujo jogo não se enquadra numa toada de contra ataque. A ideia era mudar a sua equipa para um sistema em que está rotinada a jogar mas não era isso que o jogo pedia na altura. Com isto, Peseiro mostrou outro dos seus defeitos, a dificuldade em ler o jogo. Costuma montar bem o onze inicial mas demora a reagir às mudanças que ocorrem ao longo dos noventa minutos. As substituições tardias são, aliás, uma das grandes criticas que os adeptos do Braga apontam ao treinador. Para ser justo, tenho de referir que as constantes lesões sofridas pelos seus defesas centrais ao longo da temporada não ajudaram a manter a tal segurança defensiva que falta a esta equipa mas não me parece que seja este o principal problema. É um problema mais geral, da dinâmica da equipa em si, do que particular de uma posição.
Peseiro em dificuldades para agarrar a qualificação para a Liga dos Campeões 
Nunca percebi se António Salvador escolheu José Peseiro com o objectivo de cortar com o passado de forma a que lhe proporcionasse a subida de mais um degrau competitivo ou se apenas olhou para o mercado e viu o treinador madeirense como o mais reputado dos que tinha à escolha mas parece te-lo feito sem pensar na velha máxima de que quando se contrata um treinador, contrata-se uma ideia de jogo. Agora, com as expectativas para 2012/2013 defraudadas, sem apoio dos adeptos e cada vez menos da direcção, parece certo que José Peseiro não continuará no Braga na próxima temporada, mesmo que consiga o apuramento para a Liga dos Campeões, objectivo mínimo a que se propôs e que conquiste a Taça da Liga, cumprindo o sonho de Salvador de ganhar um troféu. Não acho que José Peseiro seja um mau treinador mas não me parece que seja o treinador que este Braga precisa. Curioso ver que os nomes mais fortes apontados para suceder a José Peseiro são os de Domingos Paciência e Paulo Fonseca, treinadores de mentalidade mais defensiva que pôem ênfase no controle de jogo. Terá Salvador aprendido a lição?