terça-feira, 16 de abril de 2013

Quanto vale a Taça da Liga?

Troféu da Taça da Liga para 2012/2013
Criada na época de 2007/2008, por proposta do Sporting e do Boavista, a Taça da Liga, cuja ideia tinha recolhido inspiração em competições semelhantes noutros países europeus, dos quais se destaca a Inglaterra, propunha-se a ser uma competição que gerasse mais receitas quer para os clubes quer para a Liga de Futebol Profissional. Além disso propunha-se a que se  criassem oportunidades para a utilização de alguns valores que, de outra forma, estariam tapados no campeonato principal ou até na Taça de Portugal, competição que, possuindo o formato de jogos eliminatórios desde a ronda inicial, possui o risco de proporcionar poucos jogos à maioria dos seus participantes, e também a ocupar o espaço no calendário futebolistico nacional anual criado pela redução do número de clubes na Primeira Liga e, até à corrente temporada, na Segunda Liga. Compreende-se assim que, face ao previsível alargamento da Primeira Liga na próxima temporada de novo para 18 clubes, a existência da competição tenha sido posta em causa, facto que a Liga prontamente desmentiu. No entanto, a dificuldade na obtenção de patrocinadores para a competição não pode deixar de preocupar a entidade organizadora e a pôr em risco a sua continuidade.
Como terceira competição mais importante do panorama futebolístico Português e até tendo em conta a sua criação ter sido recente, é um troféu que se apresenta como pouco prestigiante e que recolheu, principalmente nos seus primeiros anos, alguma desconfiança por parte de alguns dos clubes integrantes, dos quais se destaca o Futebol Clube do Porto, clube que até chegou a apresentar-se em campo, numa das edições, com um misto de jogadores reservistas e júniores, desde o seu inicio de participação até à sua eliminação numa meia final disputada em Alvalade contra o clube da casa, o Sporting. Mas com o passar das temporadas, é normal que esta competição se vá enraizando e ganhando, pouco a pouco, o prestigio que naturalmente lhe falta. É até normal falar-se na vitória final como uma forma de salvar a época, algo que só pode ser visto como uma valorização da prova.
A efusiva festa da entrega do troféu
Esta época, a competição foi levada a sério por todos os seus participantes, mesmo tendo em conta que muitos utilizaram alguns jogadores habitualmente suplentes e acabou por representar algo diferente para os dois clubes que atingiram a final. Para o Futebol Clube do Porto, eliminado da Taça de Portugal e da Liga dos Campeões mais cedo do que os seus adeptos esperavam e com a renovação do título nacional em sério risco, a conquista da Taça da Liga era vista como um pequeno prémio que, não salvando totalmente a época, sempre inscrevia a temporada 2012/2013 na sua história de títulos que nos últimos 30 anos está bem recheada. Para o Sporting de Braga era a realização do sonho do seu presidente. António Salvador, de conquistar um troféu oficial durante o seu mandato e, mais do que isso, a concretização material do crescimento desportivo  que, nos últimos 10 anos, tem sido inegável, marcando-o na história do futebol português.
António Salvador, presidente do Braga, festeja a concretização de um sonho pessoal
Esta competição possuía também uma representação mais pessoal. Para Vítor Pereira, sempre muito criticado pelos adeptos azuis e brancos, significava um escape e a possibilidade de engrossar a sua defesa com o facto de ter ganho sempre troféus nas temporadas em que dirigiu o clube. Para José Peseiro, também há muito alvo de criticas dos adeptos do Braga, significava um grito de revolta pela criação de alguma ideia de injustiça face às criticas e também o afastamento da fama de “pé frio” que o persegue. Seria, para ele, a conquista do primeiro troféu de uma carreira que já vai sendo longa e com passagens por clubes de topo. Numa final muito disputada mas com pouca qualidade futebolística, acabou por ganhar o Braga e, no fim, a festa do vencedor, desde os seus adeptos aos seus dirigentes, passando pelos jogadores e equipa técnica, ajudaram ao crescimento da importância da competição. Até as lágrimas de Peseiro, muito emocionado no fim do jogo, deram algum drama ao evento e ajudaram ao acumular gradual de prestigio da competição. Que esta dure muito tempo e que continue a crescer de forma a valer cada vez mais para clubes e adeptos.
Braga saiu à rua para festejar a conquista da Taça da Liga

quinta-feira, 11 de abril de 2013

O Braga de Peseiro

António Salvador apresentou José Peseiro para guiar o Braga em 2012/2013
O crescimento desportivo do Sporting de Braga nos últimos anos tem sido algo incontornável no futebol português e até internacional. Passou de equipa do meio da tabela, por vezes a braços com a luta pela manutenção, para um "pequeno grande" do futebol português, frequentemente candidato ao título nacional e permanentemente candidato a uma presença na Liga dos Campeões. Esse crescimento deve muito à gestão cuidada da direcção liderada por António Salvador que conseguiu equilibrar as contas do clube mas também ao trabalho excepcional de alguns dos treinadores que passaram pelo banco minhoto, destacando-se Jesualdo Ferreira, Jorge Jesus, Domingos Paciência e Leonardo Jardim. Foi com estes dois últimos que o Sporting de Braga atingiu aquele que, até agora, é o seu pico desportivo. Não deixa de ser curioso que, para liderar o ataque à época 2012/2013, Salvador tenha escolhido José Peseiro, um treinador que representa uma antítese face ao estilo de Domingos Paciência e Leonardo Jardim. Ao contrário destes dois treinadores, Peseiro não é alguém relativamente inexperiente, que vivia uma curva ascendente na sua carreira. É antes um treinador experimentado, com experiência internacional a nível de clubes e de selecções e que tinha tido uma passagem marcante por um dos grandes do futebol nacional, o Sporting. Mais importante do que isso, Peseiro é um treinador com uma filosofia de jogo marcadamente ofensiva, que dá mais importância à qualidade do futebol em posse do que aos movimentos defensivos. Ao contrário dos seus dois antecessores, excelentes a montar equipas para saber jogar sem bola e tirar o máximo partido das transições ofensivas quando a recuperam, Peseiro é um treinador de domínio de jogo e não de controle de jogo. Isso fez com que o Sporting de Braga desta temporada, sem recorrer a grandes revoluções no seu plantel, quebrasse com as mecânicas de jogo incutidas durante três temporadas. É um trabalho sempre ingrato para quem chega e que se notou nas primeiras jornadas onde o Braga perdeu demasiados pontos e cedo se percebeu que não seria o candidato ao título com que Salvador sonhava. Foi o primeiro desaire desta equipa mas não o único.
José Peseiro aponta sempre à baliza adversária
O Braga, após ter assimilado as ideias do seu treinador tornou-se na típica equipa de Peseiro com todas as suas virtudes e, principalmente defeitos. É inquestionável que se tornou uma equipa ofensiva, marcando uma grande quantidade de golos, muitas vezes a culminar jogadas bem trabalhadas, com movimentações colectivas a mostrar uma grande organização ofensiva. Leva já 53 golos marcados na Liga Zon Sagres, mais 30 golos do que os 23 marcados até à mesma jornada da temporada anterior, um número que não deixa dúvidas. No entanto, ao contrário da época passada em que ocupava o terceiro lugar a um ponto do segundo classificado e a cinco do líder, encontra-se esta época em quarto lugar, a milhas da luta pelo título e a três do terceiro classificado, o surpreendente Paços de Ferreira. O que está, então, a correr mal?  Para encontrar a resposta a esta pergunta teremos sempre de começar por analisar a estatística oposta. O Braga de Leonardo Jardim, na temporada passada, tinha sofrido apenas 14 golos à jornada 26, o que contrasta com os 37 sofridos nesta temporada. O saldo até é melhor nesta temporada, com 16 golos positivos face aos 9 da temporada anterior, mas esta pequena vantagem dilui-se quando vemos que o Braga de Peseiro sofreu golos em quase todas as partidas e que oscilou algumas goleadas com uma grande quantidade de derrotas tangenciais. Das oito derrotas sofridas, apenas três delas tiveram uma diferença maior do que um golo no marcador. Pelo meio há ainda resultados quase surreais, como os empates a 4 bolas com o Olhanense em casa e a 3 com o Beira-Mar, este último em Aveiro. E aqui reside o grande problema do Braga desta época. A incapacidade para controlar o jogo, um defeito que as equipas de Peseiro sempre apresentaram. É normal ver o Braga adiantar-se no marcador, jogando bom futebol e desaparecer a meio da segunda parte, acabando por deixar fugir pontos nos últimos minutos de jogo. A equipa tem grande dificuldade em defender mantendo a bola. Fica presa num limbo querendo defender recuando as linhas sem bola, qual equipa pequena em aflição no jogo, e sair com muita gente para o ataque quando a recupera, expondo-se a contra ataques sem necessidade. O jogo com o Sporting em casa, na jornada 25 é paradigmático disto, onde jogando contra 10 jogadores e parecendo ter tudo para ganhar o jogo, acaba por o perder nos descontos. Talvez tendo-se apercebido disso, para o Dragão, na última jornada, Peseiro tentou montar uma equipa com vista a controlar o jogo a meio campo e, apesar de ter sido esmagada na luta pela posse de bola, até o estava a conseguir fazer mas este tipo de futebol já não está na cabeça dos seus jogadores e o seu jogo foi-se afundando, principalmente quando o Futebol Clube do Porto quis abanar a partida apostando na entrada de extremos rápidos. Peseiro tenta responder da pior forma possível tirando um jogador que sabe segurar a bola, Mossoró e lançando Carlão, um ponta de lança puro cujo jogo não se enquadra numa toada de contra ataque. A ideia era mudar a sua equipa para um sistema em que está rotinada a jogar mas não era isso que o jogo pedia na altura. Com isto, Peseiro mostrou outro dos seus defeitos, a dificuldade em ler o jogo. Costuma montar bem o onze inicial mas demora a reagir às mudanças que ocorrem ao longo dos noventa minutos. As substituições tardias são, aliás, uma das grandes criticas que os adeptos do Braga apontam ao treinador. Para ser justo, tenho de referir que as constantes lesões sofridas pelos seus defesas centrais ao longo da temporada não ajudaram a manter a tal segurança defensiva que falta a esta equipa mas não me parece que seja este o principal problema. É um problema mais geral, da dinâmica da equipa em si, do que particular de uma posição.
Peseiro em dificuldades para agarrar a qualificação para a Liga dos Campeões 
Nunca percebi se António Salvador escolheu José Peseiro com o objectivo de cortar com o passado de forma a que lhe proporcionasse a subida de mais um degrau competitivo ou se apenas olhou para o mercado e viu o treinador madeirense como o mais reputado dos que tinha à escolha mas parece te-lo feito sem pensar na velha máxima de que quando se contrata um treinador, contrata-se uma ideia de jogo. Agora, com as expectativas para 2012/2013 defraudadas, sem apoio dos adeptos e cada vez menos da direcção, parece certo que José Peseiro não continuará no Braga na próxima temporada, mesmo que consiga o apuramento para a Liga dos Campeões, objectivo mínimo a que se propôs e que conquiste a Taça da Liga, cumprindo o sonho de Salvador de ganhar um troféu. Não acho que José Peseiro seja um mau treinador mas não me parece que seja o treinador que este Braga precisa. Curioso ver que os nomes mais fortes apontados para suceder a José Peseiro são os de Domingos Paciência e Paulo Fonseca, treinadores de mentalidade mais defensiva que pôem ênfase no controle de jogo. Terá Salvador aprendido a lição?

sábado, 6 de abril de 2013

O regresso dos putos

Para o Sporting Clube de Portugal 2012/2013 está a ser uma época desastrosa. Apesar de ainda faltarem algumas jornadas para o fim, já quatro treinadores passaram pelo banco de Alvalade e vários jogadores que começaram a época no clube já o abandonaram. Chegou ao ponto de enfrentar uma equipa nesta segunda volta do campeonato e, ao comparar com o jogo da primeira volta contra a mesma equipa, repetir apenas dois jogadores no onze inicial, tal como aconteceu quando foi ao estádio AXA defrontar o Sporting de Braga. Mais importante do que isso, o clube encontra-se mergulhado numa crise financeira há já vários anos que se vai agudizando, tendo admitidamente ordenados em atraso na sua equipa principal, um problema de tão difícil resolução que se viu obrigado a ter de vender Van Wolfswinkel a um preço que, não sendo de saldo, não passa de razoável, numa altura onde ainda estamos longe da próxima janela de transferências. O argumento utilizado para justificar tal venda foi de que o pagamento, recebido agora, serve para pagar mais um mês. Pelo meio ainda houve uma direcção demissionária e eleições rodeadas de alguns debates ferozes. Tudo isto só pode causar uma enorme instabilidade desportiva com o resultado imediato de fazer o clube viver a sua pior época da história. 
Gelson, Elias, Xandão, Pranjic e Insúa antes de saírem em Janeiro
Pelo meio de todos este desastre, tal como muitas vezes na natureza, floresce uma vida nova, aproveitando o facto de a tempestade lhe ter removido alguns dos obstáculos que obstruíam o seu caminho. Neste caso, uma série de jovens que viram abrir-se as portas da equipa A. Eles tudo têm feito para agarrar a oportunidade de crescer que só a utilização ao mais alto nível pode proporcionar, principalmente quando feita num clube com a dimensão e exigência do Sporting. São eles os principais beneficiados da vagas deixadas por oito jogadores que, uns devido à pouca utilização e a maioria devido ao peso salarial, abandonaram o clube na janela de transferências de Janeiro. Ao todo, são já nove os jovens provenientes da formação que foram lançados nesta temporada. São eles os extremos Ricardo Esgaio e Bruma, o avançado Betinho, os defesas Eric Dier, Tiago Ilori, Fabrice Fokobo e Pedro Mendes, e ainda os médio Zézinho e João Mário. O avançado Gael Etock já foi chamado para vários treinos da equipa principal e até já foi convocado mas ainda espera a oportunidade de ser o décimo jogador lançado.
Eric Dier tem sido o mais utilizado dos jovens lançados esta época
Deste grupo, o inglês Dier é o que mais me tem impressionado, principalmente quando colocado a defesa central, sua posição de origem. Penso que está aqui um bom jogador, com um futuro muito promissor. Zézinho e Bruma também já mostraram ter potencial e Ilori continua a ser uma grande incógnita pois tem as características para ser um bom central mas, mesmo a acumular jogos a titular, está a demorar a mostrar qualidade. Vi pouco de Pedro Mendes, João Mário e Fokobo e quanto a Esgaio e Betinho simplesmente não me impressionaram. Assim, olhando para este conjunto de miúdos, não vejo ninguém com a qualidade que um Cristiano Ronaldo apresentava na mesma idade. Indo um pouco mais longe, tenho dificuldade em ver alguém que pareça ter a qualidade de um Nani, um Ricardo Quaresma ou um João Moutinho aquando do seu lançamento na equipa principal leonina. Aqui reside o maior problema da aposta na formação. Nem todas as gerações são grandes gerações e um Cristiano Ronaldo não aparece todos os anos, no entanto, sem esta aposta contínua, provavelmente nem teria aparecido ou não seria o jogador que é hoje. Sendo realista, não me parece que seja esta a geração que vai salvar o Sporting mas pode ser que seja esta a geração que abrirá o caminho a outros talentos.
Jesualdo Ferreira tem a responsabilidade de ir lançando novos valores no Sporting
Estes miúdos representam a esperança de recuperação do Sporting, desportiva e, a médio prazo, financeira mas representam também um regresso a uma identidade perdida desde a saída de Paulo Bento, o ultimo treinador a apostar verdadeiramente no produto da formação sportinguista. E isto é algo de grande importância. Desde esse tempo que o Sporting não tinha uma estratégia definida a não ser o desejo de querer ganhar o mais depressa possível. Para isso apostava na contratação de uma grande quantidade de jogadores, muitos deles vindos de clubes de maior dimensão, com ordenados altos e qualidade duvidosa, causando o aumento da crise financeira o que também agudizava a crise desportiva. Os jogadores, após épocas decepcionantes, acabavam por sair desvalorizados, saindo e nem sequer providenciando retorno financeiro. Estava instalado um ciclo vicioso. Assim, o regresso da aposta em miúdos da formação parece-me algo natural, principalmente para um clube que já o tinha experimentado com bastante sucesso. Se o clube conseguir perceber que pode juntar estes miúdos a jogadores que vão despontando noutros clubes ditos mais pequenos do campeonato, pode fazer uma equipa interessante e ajustada à sua realidade financeira, lançando as bases para uma recuperação que terá de ser sempre encarada a longo prazo. O Sporting vai acabar por agradecer este “regresso dos putos” e a Selecção Nacional também.
Eric Dier, Tiago Ilori e Bruma, entre companheiros da equipa principal