Domingo, 13 de Janeiro de 2013. Um irritado Vítor Pereira efectua a conferência de imprensa no Estádio da Luz, após um emocionante empate a 2 golos entre o seu clube, o Futebol Clube do Porto e a equipa da casa, o Benfica. Por entre reparos à arbitragem e elogios à atitude da sua equipa, deixa escapar que “O Benfica é isto. (...) Bola longa, Cardozo na primeira bola e segundas bolas. (...) contra nós, aqui, tem sido sempre igual.” Mas será que tem razão?
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Vítor Pereira, treinador do FC Porto |
O Benfica é uma equipa de tracção à frente. É consensual que a sua maior força reside no ataque, onde tem avançados de topo e alas desequilibradores. Logicamente, tenta forçar a que a maior parte do tempo de jogo se passe na sua zona ofensiva, empurrando o adversário cada vez mais para trás. Mas não se deve pensar que, de forma a obter esta condição de jogo, o Benfica recorra permanentemente a bolas longas para a área. Antes usa uma construção apoiada que até tem tendência a começar na faixa central. É rara a jogada em que a bola não passe pelos seus médios centro, principalmente Matic, e daqui parta para uma das alas, quer directamente no extremo, quer um pouco antes, no lateral que já vem a fazer um movimento ofensivo. Estes jogadores entram na ala em superioridade numérica e obrigam à compensação por um dos médios adversários ou por um dos seus centrais. Este movimento é perigoso para o adversário pois o segundo avançado do Benfica tem tendência a explorar o espaço que surge agora vazio, aparecendo várias vezes sozinho a entrar na área ou a recuar para o espaço do trinco, de onde combina com o outro avançado ou com o extremo de novo. Lima é um mestre a efectuar estes movimentos. Por vezes, o médio centro põe directamente a bola no segundo avançado, que recua de forma a causar desequilíbrio no meio campo e, daqui parte para uma combinação com um dos extremos ou com o avançado, pedindo normalmente uma triangulação. É a mesma lógica mas com um ordem invertida. De referir que todos estes movimentos giram em volta da âncora Cardozo, jogador de grande importância não só pelos golos que marca mas pelo seu entendimento táctico do jogo ofensivo do Benfica.
No clássico da Luz, Vítor Pereira leu bem o adversário. Tapou as faixas laterais com os seus dois defesas laterais bem apoiados pelos alas Varela e Defour mas não se limitou a esperar. Tentou contrariar o jogo do Benfica não onde ele é mais forte mas onde o seu FC Porto é mais forte, o meio campo. Os seus médios jogaram em pressão alta fechando os espaços à primeira fase de construção do Benfica. Percebeu também que Lima teria de ser vigiado de forma a evitar os seus movimentos de desequilíbrio. Para isso recorreu a marcações zonais onde os centrais do FC Porto iam alternando a marcação e onde Fernando não deixava o avançado brasileiro respirar, sempre que este descia uns metros. Lima esteve apagado em todo o jogo e não foi por menor inspiração.
Tudo isto obrigou a que os médios ou mesmo os defesas encarnados recorressem demasiadas vezes às bolas longas, quase todas condenadas ao insucesso, ou por cortes da defensiva portista ou por passes imprecisos, feitos por jogadores sem espaço. Apenas conseguiu colocar bem uma destas bolas na ala esquerda e deu origem ao seu primeiro golo. Mas o Benfica não foi só isto. Num jogo muito equilibrado, poucas vezes conseguiu algum dos seus movimentos ofensivos mas, quando o fez, marcou o segundo golo, desta vez pela ala direita. Na segunda metade da segunda parte, onde a frescura física já não é a mesma e os espaços têm tendência a aumentar, recorreu à colocação de bolas nas costas da defesa portista e, na única vez que o conseguiu, Cardozo atirou ao poste, após uma brilhante intervenção de Helton. O Benfica criou as suas 3 maiores oportunidades de 3 formas bem diferentes de atacar. Demonstrou que é uma equipa com várias soluções ofensivas e que sabe atacar não só como gosta mas também como o jogo permite.
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Cardozo atira ao poste |
Após um jogo de grande peso táctico, Vítor Pereira tem de estar orgulhoso pela forma como a sua equipa interpretou as suas ideias mas não lhe fica bem criticar o jogo adversário, principalmente quando este é resultado do seu próprio jogo. “O Benfica é isto” soa a critica mas deveria ter sido um elogio. A frase correcta deveria ter sido “o Benfica também é isto”. Comentários de treinadores à parte, foi, táctica e emocionalmente, um excelente jogo, entre as duas melhores equipas do campeonato. A competição agradece.