domingo, 17 de fevereiro de 2013

A equipa sensação

Jornada 18 da Liga Zon Sagres. O Paços de Ferreira vai a Braga e, em pleno estádio AXA, derrota o Sporting de Braga por 3 bolas a 2, aumentando a distância para esta equipa, 4º classificado da Liga principal, para 4 pontos. Cimenta o 3º lugar e uma candidatura às competições europeias mas, acima de tudo, carimba definitivamente o estatuto de equipa sensação da época 2012/13. O caso não é para menos.
Pacenses festejam um dos golos marcados ao Braga

Em Agosto, poucos se arriscariam em apostar neste Paços de Ferreira para estar, a meio de Fevereiro, intrometido na luta pelo acesso à Liga dos Campeões. Era uma aposta de loucos. Com um orçamento de 3 milhões e meio de euros, ataca a prova com o objectivo realista de fugir às despromoção e fazer uma época o mais tranquila possível. Está a fazer isso e muito mais. Prestes a finalizar o segundo terço do campeonato, aparece em 3º lugar, numa das vagas de acesso à milionária Liga dos Campeões. Qual o segredo desta equipa?
Carlos Barbosa, presidente do clube
Na realidade, não existe um segredo mas sim um conjunto de factores que, combinados, estão a permitir este desempenho surpreendente. Penso que o essencial será a estabilidade directiva e financeira. O Paços de Ferreira é um clube muito bem estruturado, que aplica o modelo de alguns grandes clubes europeus à sua escala, evitando sempre entrar em exageros. Tem uma direcção discreta e competente, constituída maioritariamente por gente da terra, que conhece bem a cultura do clube e que assumiu a liderança sem guerras, mantendo uma linha estratégica que vem de trás mas que, essencialmente, possui uma ideia clara da dimensão do clube e do espaço que ocupa no desporto em Portugal. Orgulha-se de ser dos poucos clubes com ordenados em dia e com condições de assim os manter nos próximos tempos. Como disse Cássio, o seu guarda redes, “quando se entra em campo, não se pensa nisso mas durante os treinos e o dia-a-dia, é bom trabalhar tranquilamente”. Faz a diferença, mas esta tranquilidade financeira não é a única razão para o sucesso. É antes, a base para a construção do sucesso da sua equipa de futebol.
Após uma época 2011/12 algo atribulada, a aposta para treinar a equipa nesta temporada recaiu num dos treinadores da nova geração, Paulo Fonseca, contratado ao vizinho Desportivo das Aves, que montou uma equipa sem grandes estrelas, baseada na espinha dorsal proveniente da época anterior e reforçada com algumas contratações cirúrgicas. Sem prévia experiência como treinador de primeira liga, Paulo Fonseca está a surpreender tudo e todos com a forma como tem conduzindo a equipa dos castores. Possui, à 18ª jornada, a segunda melhor defesa do campeonato, e por aqui facilmente se percebe que faz da solidez defensiva o seu maior trunfo. Mas não se deve considerar que o Paços de Ferreira é uma equipa defensiva. É mais uma equipa que sabe defender. Não encara o seu momento defensivo como algo maioritariamente da responsabilidade do seu quarteto defensivo mas sim de toda a equipa. É uma das equipas da primeira liga que melhor controla os diferentes tempos de jogo e isso nota-se quer a defender quer a atacar onde aparece a jogar de forma apoiada ou a contra atacar com a mesma facilidade, conforme as necessidades especificas de cada jogo. É, no entanto, uma equipa pouco concretizadora. Mas isso é algo que parece estar a mudar, a avaliar pelos 9 golos marcados nas ultimas 3 jornadas.
Paulo Fonseca, treinador do Paços de Ferreira
A táctica preferencial do Paços de Ferreira é quase sempre o 4-3-3 mas esta ideia é mais óbvia no papel do que em campo. No relvado, apresenta uma táctica híbrida entre o 4-3-3 e o 4-4-2, conseguida através da forma como coloca o seu médio ofensivo e um dos seus extremos, papeis normalmente entregues a Vítor e Josué, ambos médios de origem. Estes jogadores combinam muito bem e é por aqui que passa a maior parte da organização ofensiva da equipa. Confundem os adversários constantemente com as suas movimentações, principalmente o jogador que está no flanco, quando a equipa tem a bola. Tanto pode partir da ala e cair no meio a combinar com o outro jogador, como começar no meio e abrir na ala, combinando com o lateral  que vem em movimento ofensivo provocando uma abertura no espaço defensivo adversário  sempre difícil de prever. Quando a equipa perde a bola, é também este jogador que começa a fechar no meio campo, povoando-o como se, de repente, a equipa tivesse um médio a mais do que seria normal. No outro flanco, normalmente o esquerdo, joga o peruano Paolo Hurtado, uma das contratações desta época. É um extremo mais vertical, rápido e com bom toque de bola. É bom a efectuar diagonais e, em pique, aparecer nas costas da defesa a pedir um passe que o ponha na cara do golo. Já leva 7 golos nesta época, a maioria marcados desta forma. Toda esta estrutura é guardada por dois médios de características mais defensivas que jogam quase de perfil e são fortíssimos na pressão ao jogador adversário, André Leão e Luíz Carlos. Correm quilómetros ao longo dos 90 minutos e são as âncoras do equilíbrio defensivo da equipa. São jogadores que elevam a dimensão física do jogo do Paços mas não são jogadores toscos, aparecendo várias vezes em movimento ofensivo, principalmente Luíz Carlos. Atrás deles aparece uma defesa a 4 constituída por dois centrais com bastante mobilidade, Ricardo e Tiago Valente, este último regressado ao clube, trazido por Paulo Fonseca do Desportivo das Aves, e por dois laterais rápidos que sabem fechar o flanco a defender ou desdobrar-se sem grandes problemas num movimento ofensivo. Tony é o dono do lado direito e, no lado esquerdo aparece agora Nuno Santos ou Diogo Figueiras, em luta pela titularidade depois de  Antunes, que fez a primeira volta a titular, ter saído em Janeiro para o Málaga. Na baliza, mora o experiente Cássio, guarda redes ágil que transmite segurança à sua defesa. Resta falar naquele que é, na minha opinião, o seu ponto fraco, o ponta de lança. Nesta posição costuma aparecer Cícero. Está longe de ser um goleador mas é um jogador muito útil, daqueles que combina bem com os jogadores que aparecem de trás abrindo espaços ou aparecendo para uma tabela e que, a defender, é o primeiro a pressionar. Mesmo assim, já apontou 5 golos no campeonato e é um jogador em quem o treinador pode sempre confiar para lutar até ao fim. Mas o equilíbrio não se fica por aqui. Olhando para o banco, encontramos soluções fiáveis para quase todas as posições. Destacam-se os extremos Manuel José, ala com uma boa capacidade de cruzamento e bom sentido táctico e o joker Caetano, muitas vezes utilizados para abrir a frente de ataque quando o treinador assim o entender, transformando o esquema táctico da equipa num verdadeiro 4-3-3 flanqueador. Como soluções defensivas encontramos o veterano Filipe Anunciação, médio defensivo de origem que pode ser utilizado a defesa central ou mesmo a lateral e Javier Cohene, defesa central internacional paraguaio que foi titular na maior parte da época passada. É uma equipa de grande qualidade e equilíbrio mas que deixa  sempre no ar a interrogação do que seria se tivesse um goleador de eleição.
Uma época em festa
Após uma primeira volta fantástica em que apenas averbou duas derrotas, contra FC Porto e Benfica, enfrentou com segurança a janela de transferências de Inverno perdendo apenas um dos seus habituais titulares, o lateral internacional português Antunes. A avaliar pelos jogos que fez desde o fecho do mercado, não parece ter perdido qualidade. Tenho dúvidas que o Paços de Ferreira se consiga manter no terceiro lugar até ao fim mas, independentemente do que vier a acontecer nos jogos que faltam para terminar o campeonato, os seu adeptos podem estar orgulhosos da equipa e podem ter a certeza que esta será sempre uma época inesquecível.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Pérolas II: Pedro Santos (Setúbal)

Num campeonato onde o 4-3-3 é o esquema táctico dominante, é natural que, face à abundância, alguns jogadores de faixa lateral se destaquem. Um desses jogadores, é Pedro Santos do Vitória de Setúbal.
Pedro Santos (Vitória de Setúbal)
Formado no Casa Pia, foi neste clube que começou a carreira profissional e onde jogou durante 3 épocas. Descoberto para o Leixões por Augusto Inácio na época 2010/11, fez uma primeira época algo discreta, sendo maioritariamente suplente utilizado. Foi já com Litos no comando dos matosinhenses que assumiu a titularidade de forma regular. Destacou-se na segunda época ao serviço dos leixonenses na Segunda Liga, e chamou a atenção de José Mota que o levou para o Vitória de Setúbal. O actual treinador dos sadinos é conhecido por encontrar talentos nas divisões secundárias ou em mercados financeiramente acessíveis e Pedro Santos é já um dos jogadores que pode juntar à sua lista de descobertas de sucesso. Nesta temporada, época de estreia na Liga Zon Sagres, tem sido tem sido um dos favoritos de José Mota que maioritariamente o utiliza a extremo esquerdo, o seu lugar de origem, mas já passou pela faixa contrária e até já assumiu o posto de defesa lateral quando as necessidades da equipa assim o exigiram. Já fez algumas assistências e marcou 3 golos ao serviço dos sadinos mas tem dado nas vistas mais pelo seu jogo veloz e aguerrido onde mistura uma grande entrega com uma técnica acima da média. Numa equipa como o Vitória de Setúbal, por vezes, confunde-se com um típico jogador de contra ataque mas Pedro Santos consegue ser mais do que isso. É daqueles jogadores que nunca vira a cara à luta, leva a equipa para a frente e abana o jogo pondo a cabeça em água ao defesa que encontra pelo caminho pelo repentismo e improviso que imprime às suas jogadas. Apesar de todas as suas qualidades, perde-se um pouco na sua impetuosidade e tem alguma tendência a deixar-se levar pelo individualismo, conduzindo muitas vezes a bola de cabeça baixa. Com 24 anos ainda está a tempo de corrigir estes defeitos. Tem potencial para voos mais altos mas já começa a ser difícil imaginá-lo num dos grandes do nosso futebol, povoados de bons extremos. Será interessante ver se alguma vez terá essa oportunidade e, caso apareça, como a vai agarrar. Para já, será essencial nos jogos que faltam do Vitória de Setúbal e na sua luta pela permanência.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Pérolas I: Ghilas (Moreirense)

Nabil Ghilas (Moreirense FC)
Nabil Ghilas é um jogador franco argelino do Moreirense e tem dado nas vistas durante esta época. O caso não é para menos. O seu irmão, Kamel Ghilas, é um extremo veloz que passou pelo Vitória de Guimarães com algum sucesso mas o mais novo dos Ghilas é outro tipo de jogador, mais raro por estas bandas. Nabil é ponta de lança e daqueles com faro de golo.
Quem vê um jogo do Moreirense, logo repara num jogador com semelhanças físicas com o também franco argelino, Karim Benzema, jogador do Real Madrid. Mas com o decorrer do jogo, Ghilas mostra que não é apenas uma imitação barata do avançado do colosso espanhol. Com 1,83m de altura e 85kg de peso, é fisicamente possante mas não é um jogador estático nem lento. Pelo contrário, impressiona pela mobilidade que põe em campo. É frequente cair nas alas quer a combinar com o extremo na procura do espaço para aparecer a seguir, quer a conduzir a bola para efectuar um cruzamento. Também não é raro vê-lo a descer uns metros no campo à procura da bola, para organizar o ataque. Tem apenas de aprender a saber sair da sua posição de forma mais segura para não a deixar desamparada. Algo a corrigir com o aumento de experiência. Além disto, já leva 11 golos em todas as competições, 8 na Liga Zon Sagres, o que mostra a sua apetência para o golo.
Tem feito uma carreira segura, subindo passo a passo e evoluindo gradualmente. Começou a sua carreira profissional no modesto Cassis-Carnoux, clube que militava nos distritais franceses e, seguramente aconselhado pelo seu irmão, veio para Portugal, também para o Minho. Assinou pelo Vizela, da Segunda Divisão B portuguesa e, após uma temporada, saltou para o Moreirense, na II Liga. Foi várias vezes suplente utilizado e algumas vezes titular, tendo marcado apenas 4 golos em todas as competições. Após a subida à Primeira Liga, assumiu a titularidade de forma regular e também as rédeas do ataque do seu Moreirense. Agora com 22 anos, dá a impressão de estar pronto para subir mais uns degraus. Segundo a imprensa desportiva, o Sporting interessou-se nele neste mercado de inverno e, face à relutância do Moreirense para o vender a meio do campeonato, garantiu o direito de preferência sobre o jogador num caso de uma futura transferência. A ser verdade, é a prova de que há gente atenta à evolução deste avançado. Será sempre interessante seguir o seu desempenho nos jogos que restam. Se o Moreirense conseguir evitar a descida de divisão, em muito depende de um Ghilas inspirado na recta final do campeonato.

Ainda há pérolas?

Quando comecei a pensar na elaboração deste blogue, logo me surgiu a ideia de criar uma rúbrica onde destacaria jogadores que militam nos chamados clubes médios e pequenos da nossa Liga. Comecei por pensar em jogadores que veria facilmente a integrar o plantel de um dos grandes e foi aqui que encontrei a maior dificuldade. Olhava para os plantéis dos vários clubes e via muito pouca gente que me chamasse a atenção a este ponto, principalmente para integrar o plantel de Benfica ou FC Porto. Transferências internas de sucesso, entre clubes médios/pequenos e grandes, eram comuns nos anos 90 e inicio do século XXI. Quem não se lembra de jogadores como Deco, Zahovic, Edmilson, Emerson, Artur, Paulo Bento, Dimas, Sá Pinto, Nuno Gomes, Paulo Ferreira, Pedro Barbosa, Vidigal, entre outros? Muitos outros falharam, claro, mas isso fazia parte da aposta e, no final de cada temporada, havia sempre um número considerável de jogadores que dava o salto para um dos grandes. Mas este tipo de movimentação tem-se mostrado cada vez mais raro. Deparei-me então com a questão fulcral. Será que os clubes pequenos cada vez mais têm jogadores de pior qualidade ou o problema reside nos clubes grandes?
Dimas, Paulo Bento e Pedro Barbosa no Vitória de Guimarães
Olhando para os grandes, o Futebol Clube do Porto foi o que manteve durante mais tempo a tendência de descobrir jogadores nos clubes mais pequenos, alguns deles com passagens sem sucesso por outro dos grandes, como Varela ou Nuno Valente. Mas essa tendência tem diminuído, preferindo o clube apostar no mercado sul americano e, mais recentemente, no mexicano. Olhando para o plantel actual apenas se notam Maicon, contratado ao Nacional da Madeira e os guarda redes Helton, contratado ao União de Leiria e Fabiano, ex-Olhanense. Varela foi contratado ao Estrela da Amadora mas esteve ligado ao Sporting. Pelo meio, contratou Miguel Lopes ao Rio Ave mas este nunca se impôs no Dragão e após uma passagem de sucesso pelo Braga, acabou cedido ao Sporting onde começa a vingar. Pelas notícias que vão saindo na imprensa desportiva, a sensação que fica é que o FC Porto cada vez mais se afasta desta estratégia de contratação interna. O seu modelo de negócio foi mudando e o seu nível desportivo também. É hoje uma equipa de nível Champions e foi cavando um fosso muito grande face aos pequenos do nosso país. Isto tem tornado o salto desportivo cada vez maior para quem vem de um clube doméstico de pequena dimensão. 
Maicon com a camisola do Nacional da Madeira
O Benfica foi talvez o primeiro dos grandes a abandonar a estratégia de contratação no mercado interno. Após várias épocas de insucesso, estabilizou a equipa e, contrariamente ao rival tripeiro, parece querer retomar esta estratégia. As contratações de Hugo Vieira ao Gil Vicente e de Michel e Luisinho ao Paços de Ferreira parecem revelar esta tendência. Mas o clube, tal como o FC Porto, subiu a sua fasquia de qualidade para níveis altíssimos e acaba por sofrer do mesmo problema. O fosso para os clubes pequenos é cada vez maior e, tal como no Dragão, o ambiente é cada vez menos hospitaleiro para este tipo de jogadores que assim precisam de maior tempo de adaptação, algo que também vai escasseando.
Lusinho mostrou-se no Paços de Ferreira
Durante o século XXI, o Sporting apostou imenso na formação, principalmente nos anos em que era treinado por Paulo Bento mas quando diminuiu essa aposta, preferiu contratar fora do país, insistindo em jogadores vindos de clubes consagrados ou em estrangeiros desconhecidos, muitas vezes de qualidade duvidosa. Para um clube cada vez mais engolido pela sua própria crise financeira, espanta que não olhe mais para o nosso campeonato onde poderia descobrir alguns talentos por menos dinheiro. A contratação de Joãozinho ao Beira Mar parece ser um sinal de que algo está a mudar nos leões. Só o futuro o dirá.
Joãozinho antes de se transferir do Beira Mar para o Sporting
Resta o Sporting de Braga. Na sua ascensão a quarto grande do futebol português, tem apostado na contratação de jogadores que passaram pelos outros grandes mas que, por lá, foram perdendo espaço. Este tipo de jogadores, como Hugo Viana, Custódio, Alan, Rúben Amorim, Rúben Micael ou Hélder Barbosa têm constituído a sua espinha dorsal mas não deixou de contratar nos clubes de menor dimensão. Ismaily, Éder, Paulo Vinicius e agora Rabiola são disso exemplo. As movimentações de mercado mais recentes deixam antever que será uma fórmula a repetir e isso é muito importante para os jovens que sonham em subir na sua carreira. O Braga constitui um oásis para estes jogadores.
Éder com a camisola dos estudantes
Não me parece que a qualidade dos planteis dos diversos clubes médios/pequenos tenha diminuído ao longo das épocas. Existem vários jogadores interessantes nesses clubes mas a fasquia dos compradores aumentou. Parece-me claro que o FC Porto e o Benfica se têm afastado demais dos restantes clubes portugueses. Os seus orçamentos têm crescido e também a qualidade dos seus planteis. Isso torna a aposta no mercado nacional cada vez mais arriscada para estes clubes, pois exige maior tempo de adaptação para os novos jogadores, tempo esse que estes clubes cada vez menos podem oferecer. Braga e Sporting ainda não apresentam este problema mas possuem estratégias diferentes talvez até pelo seu historial. Mesmo começando a olhar mais para as pérolas do nosso mercado, representam poucas vagas para quem quer subir. Os clubes pequenos sempre foram assolados por problemas financeiros e as vendas que iam fazendo aos grandes ajudavam a sobreviver. Talvez a situação se inverta quando os clubes grandes perceberem que a crise também os afecta e que terão de voltar a olhar para dentro. Pode não demorar muito tempo.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

“O Benfica é isto”...Será?

Domingo, 13 de Janeiro de 2013. Um irritado Vítor Pereira efectua a conferência de imprensa no Estádio da Luz, após um emocionante empate a 2 golos entre o seu clube, o Futebol Clube do Porto e a equipa da casa, o Benfica. Por entre reparos à arbitragem e elogios à atitude da sua equipa, deixa escapar que “O Benfica é isto. (...) Bola longa, Cardozo na primeira bola e segundas bolas. (...) contra nós, aqui, tem sido sempre igual.” Mas será que tem razão?
Vítor Pereira, treinador do FC Porto
O Benfica é uma equipa de tracção à frente. É consensual que a sua maior força reside no ataque, onde tem avançados de topo e alas desequilibradores. Logicamente, tenta forçar a que a maior parte do tempo de jogo se passe na sua zona ofensiva, empurrando o adversário cada vez mais para trás. Mas não se deve pensar que, de forma a obter esta condição de jogo, o Benfica recorra permanentemente a bolas longas para a área. Antes usa uma construção apoiada que até tem tendência a começar na faixa central. É rara a jogada em que a bola não passe pelos seus médios centro, principalmente Matic, e daqui parta para uma das alas, quer directamente no extremo, quer um pouco antes, no lateral que já vem a fazer um movimento ofensivo. Estes jogadores entram na ala em superioridade numérica e obrigam à compensação por um dos médios adversários ou por um dos seus centrais. Este movimento é perigoso para o adversário pois o segundo avançado do Benfica tem tendência a explorar o espaço que surge agora vazio, aparecendo várias vezes sozinho a entrar na área ou a recuar para o espaço do trinco, de onde combina com o outro avançado ou com o extremo de novo. Lima é um mestre a efectuar estes movimentos. Por vezes, o médio centro põe directamente a bola no segundo avançado, que recua de forma a causar desequilíbrio no meio campo e, daqui parte para uma combinação com um dos extremos ou com o avançado, pedindo normalmente uma triangulação. É a mesma lógica mas com um ordem invertida. De referir que todos estes movimentos giram em volta da âncora Cardozo, jogador de grande importância não só pelos golos que marca mas pelo seu entendimento táctico do jogo ofensivo do Benfica.
No clássico da Luz, Vítor Pereira leu bem o adversário. Tapou as faixas laterais com os seus dois defesas laterais bem apoiados pelos alas Varela e Defour mas não se limitou a esperar. Tentou contrariar o jogo do Benfica não onde ele é mais forte mas onde o seu FC Porto é mais forte, o meio campo. Os seus médios jogaram em pressão alta fechando os espaços à primeira fase de construção do Benfica. Percebeu também que Lima teria de ser vigiado de forma a evitar os seus movimentos de desequilíbrio. Para isso recorreu a marcações zonais onde os centrais do FC Porto iam alternando a marcação e onde Fernando não deixava o avançado brasileiro respirar, sempre que este descia uns metros. Lima esteve apagado em todo o jogo e não foi por menor inspiração.
Tudo isto obrigou a que os médios ou mesmo os defesas encarnados recorressem demasiadas vezes às bolas longas, quase todas condenadas ao insucesso, ou por cortes da defensiva portista ou por passes imprecisos, feitos por jogadores sem espaço. Apenas conseguiu colocar bem uma destas bolas na ala esquerda e deu origem ao seu primeiro golo. Mas o Benfica não foi só isto. Num jogo muito equilibrado, poucas vezes conseguiu algum dos seus movimentos ofensivos mas, quando o fez, marcou o segundo golo, desta vez pela ala direita. Na segunda metade da segunda parte, onde a frescura física já não é a mesma e os espaços têm tendência a aumentar, recorreu à colocação de bolas nas costas da defesa portista e, na única vez que o conseguiu, Cardozo atirou ao poste, após uma brilhante intervenção de Helton. O Benfica criou as suas 3 maiores oportunidades de 3 formas bem diferentes de atacar.  Demonstrou que é uma equipa com várias soluções ofensivas e que sabe atacar não só como gosta mas também como o jogo permite.
Cardozo atira ao poste
Após um jogo de grande peso táctico, Vítor Pereira tem de estar orgulhoso pela forma como a sua equipa interpretou as suas ideias mas não lhe fica bem criticar o jogo adversário, principalmente quando este é resultado do seu próprio jogo. “O Benfica é isto” soa a critica mas deveria ter sido um elogio. A frase correcta deveria ter sido “o Benfica também é isto”. Comentários de treinadores à parte, foi, táctica e emocionalmente, um excelente jogo, entre as duas melhores equipas do campeonato. A competição agradece.