sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O que se passa em Paços

Após uma época em festa os adeptos deparam-se com outra realidade
Foi a equipa sensação da última temporada ao conseguir um espectacular terceiro lugar na Primeira Liga e uma inédita qualificação para a pré eliminatória da Liga dos Campeões mas esta época, após 7 jogos oficiais disputados, conta o mesmo número de derrotas. Esta inversão de resultados parece ser surpreendente mas acaba por ser algo previsível. Vejamos o que se passa no mundo do Futebol Clube Paços de Ferreira.
Equipa tipo do Paços de Ferreira 2012/2013
Após uma boa temporada, será de esperar que um clube de média dimensão aproveite para vender os seus principais activos e capitalizar assim os bons resultados desportivos. O Paços de Ferreira não foi excepção e, após a brilhante temporada de 2012/2013, viu sair a sua equipa técnica, à altura liderada por Paulo Fonseca, para o Futebol Clube do Porto e também a maioria dos seus principais jogadores, dos quais se destacam as transferências de Josué a acompanhar o treinador para os dragões, de Vítor para o Sporting, de Luiz Carlos para o Sporting de Braga e de Diogo Figueiras para o Sevilha. Além destes viu sair também o guarda redes Cássio e o avançado Cícero, jogadores muito utilizados durante a temporada. Para os substituir, o Paços manteve a toada de outras épocas em que a estabilidade financeira é regra e conseguiu, mesmo assim, algumas contratações que, à partida, garantem qualidade à equipa, casos de Rui Miguel e Gregory, jogadores com historial em Portugal e que regressam ao campeonato nacional após passagens pelo estrangeiro, Rúben Ribeiro e Hélder Lopes, que se tinham destacado na época anterior ao serviço do Beira Mar, de Sérgio Oliveira e Michael Seri, duas esperanças muito utilizadas na equipa B do FC Porto, de Carlão, avançado experiente vindo do Sp. Braga e Bebé, internacional sub-21 por Portugal e emprestado pelo Manchester United. Bons jogadores, sem dúvida, mas são também um grande número de entradas para enquadrar na equipa em pouco tempo e isso é sempre uma causa de instabilidade.
Possível equipa tipo do Paços de Ferreira 2013/2014

Para liderar o novo Paços foi escolhido Costinha, um nome grande do futebol português como jogador mas que não deixa de ser um treinador muito inexperiente. Aqui reside uma das decisões mais controversas da direcção e que está a gerar alguma contestação no clube. Costinha é um treinador que, pelo pouco que mostrou ao serviço do Beira Mar na época anterior, gosta de futebol ofensivo e jogo apoiado. Isto não seria problemático se o Paços não se tivesse destacado em 2012/2013 pela sua grande segurança defensiva. Ou seja, à mudança obrigatória de treinador, a direcção acabou por adicionar uma grande mudança de estilo de jogo da equipa. Em termos tácticos, Costinha mantém, no papel, o 4-3-3 mas, em campo, a equipa comporta-se de outra forma, muito desgarrada, a tentar impor velocidade quando tem a bola e com os sectores algo afastados o que faz com que o meio campo, verdadeira chave da anterior equipa de Paulo Fonseca, pressione menos a saída de bola adversária e apareça menos a apoiar a defesa. Não é de estranhar que o Paços tenha já encaixado 18 golos nos 7 jogos oficiais que disputou até agora, tantos como os sofridos nas primeiras 21 jornadas da época anterior. A atacar, é uma equipa algo previsível, tendo perdido, com a saída de Josué e Vítor, a capacidade de efectuar passes a rasgar a defesa. Parece agora apostar na velocidade dos seus alas e a maioria das suas jogadas acabam anuladas pela defesa adversária. Costinha parece ter compreendido isso e até já abordou o tema dizendo que talvez seja um treinador romântico demais. Talvez até por isso, não tem conseguido estabilizar a equipa base e parece estar ainda à procura do melhor onze. Pelas suas palavras, talvez comece até a procurar outra dinâmica de jogo. Numa equipa com tanta gente nova, é o pior que pode acontecer pois só vem adicionar mais instabilidade ao grupo.
André Leão foi dos poucos jogadores fundamentais que se manteve para esta temporada
Mas o Paços de Ferreira também se pode queixar da sorte. Todos os argumentos previamente utilizados são válidos mas saem diminuídos quando analisamos o calendário que os castores tiveram de enfrentar nestas 7 derrotas. Nas competições europeias jogaram por duas vezes contra o Zenit de São Petersburgo e uma contra a Fiorentina, equipas de outra dimensão futebolistica, com orçamentos estratosféricos quando comparados com os 3 milhões de euros do Paços e equipas a condizer. Para o campeonato nacional, em quatro jogos enfrentou aquelas que são talvez as melhores equipas do panorama nacional, Sp. Braga, FC Porto e Benfica tendo apenas enfrentado uma equipa do seu campeonato, o Olhanense, fora, num jogo muito equilibrado em que saiu derrotada pela margem mínima após ter tido as melhores oportunidades do jogo. Assim, as 7 derrotas acumuladas acabam por ser derrotas naturais. Mas são sempre 7 derrotas e não existe qualquer outro resultado pelo meio a contrabalançar o saldo. As derrotas são esperadas mas a equipa parece estar a perder confiança e a jogar pior de jogo para jogo, principalmente após sofrer um golo. Percebe-se que a maior dificuldade de Costinha tenha deixado de ser a construção da equipa para passar a ser a luta pela manutenção da confiança dos jogadores e principalmente a luta contra a instalação de uma cultura de derrota. O campeonato do Paços de Ferreira começa agora, com a recepção ao Vitória de Setúbal e é isso que Costinha estará a tentar meter na cabeça dos jogadores. Só os próximos jogos dirão se o treinador conseguirá levantar a equipa ou se esta se candidata a acabar a época a lutar para não descer de divisão.
Costinha depara-se com grandes problemas para resolver

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ambições Lusas na Europa

Nesta semana vamos assistir ao inicio da fase grupos das duas competições europeias de clubes, a Liga dos Campeões e a Liga Europa. Já foram disputadas as pré eliminatórias de acesso às fases de grupos e esses são jogos oficiais que fazem parte do calendário da UEFA mas, para a maioria dos adeptos de futebol, é aqui que começa a paixão dos jogos internacionais de clubes. Mas voltemos às pré eliminatórias. Nessa fase, as equipas portuguesas ficaram-se por um aproveitamento regular. O Paços de Ferreira, em estreia na Champions, teve pouca sorte no sorteio e acabou eliminado por um Zenit que se mostrou amplamente superior e o Braga caiu aos pés do modesto Pandurii da Roménia. Para o Paços, era o desfecho esperado e recebe a consolação de entrar directamente na fase de grupos da Liga Europa, podendo colocar uma linha na sua história que descreve uma honrosa participação na principal competição de clubes mas, para o Braga, a desilusão foi total. Era a equipa portuguesa da qual se esperava melhor performance na Liga Europa e nem a fase de grupos, objectivo mínimo para qualquer equipa que participa nestas competições, conseguiu alcançar. Pelo outro lado temos o Estoril que, em época de estreia internacional beneficiou de dois sorteios favoráveis para aceder aos grupos e Vitória de Guimarães que marca mais uma presença europeia no seu currículo internacional. Olhando um pouco mais para cima, por entre o brilho da Champions, encontramos as duas equipas mais fortes do nosso actual campeonato, Futebol Clube do Porto e Benfica, com entradas directas na fase de grupos e em estilo, aparecendo como cabeças de série no sorteio.
Paços de Ferreira não teve andamento para Witsel e o seu Zenit
O que pode então esperar o futebol português para esta temporada? Analisando os grupos, na Champions, FC Porto e Benfica, beneficiando do seu estatuto de cabeças de série conseguiram evitar os principais tubarões do futebol europeu e têm pela frente grupos que lhes permitem sonhar de forma legitima com uma presença nos oitavos de final da competição. Mas não devem ser olhados como grupos fáceis, principalmente o que saiu em sorte ao campeão nacional, com Atlético de Madrid e Zenit de São Petersburgo a apresentarem-se como duas equipas altamente competitivas e que possuem força suficiente para fazer frente aos dragões. O Benfica parece ter tido um pouco mais de sorte, tendo pela frente o milionário Paris Saint Germain, a equipa mais dificil do grupo, mas também um Olimpiakos que, não sendo fácil, está perfeitamente ao alcance das águias. Como quarta equipa, Anderlecht no grupo benfiquista e Austria de Viena no grupo portista serão equipas que, à partida, terão poucas hipóteses de acabar esta fase nos dois primeiros lugares do grupo mas que podem atrapalhar as ambições de quem quer que seja que perca pontos com elas. São as armadilhas de cada grupo. 
Os grupos para a Liga dos Campeões, edição 2013/2014

Na Liga Europa, a tarefa parece bem mais complicada para os representantes portugueses. Estoril terá pela frente equipas com maior andamento internacional das quais se destaca o Sevilha, candidato ao primeiro lugar do grupo mas também Slovan Liberec e Friburgo, mais acessiveis do que os espanhois mas igualmente com elevado grau de dificuldade para os canarinhos que decerto sentirão a falta de experiência como um grande entrave. O Vitória de Guimarães também está envolvido num grupo que, à partida, parece muito dificil, com Bétis de Sevilha e  Lyon a assumirem-se como candidatos naturais aos lugares de apuramento e com os croatas do Rijeka como equipa mais acessível. Já o Paços de Ferreira terá pela frente uma tarefa complicada, com a Fiorentina a brilhar num grupo em que é claramente favorita e ladeada por Pandurii, equipa que bateu o Braga com muita classe e pelos experientes ucranianos do Dnipro. 
Os grupos para a Liga Europa, edição 2013/2014

Todas os representantes nacionais terão de encarar as suas respectivas provas com realismo, tendo o objectivo claro de conseguir a qualificação nos seus grupos para atingir o primeiro jogo a eliminar, oitavos de final no caso da Liga dos Campeões e 16 avos de final na Liga Europa. Qualquer coisa acima disso deverá ser encarado por responsáveis, jogadores e adeptos, como uma vitória, algo acima das expectativas. Se para FC Porto e Benfica, o objectivo parece perfeitamente concretizável, já para os representantes lusos na Liga Europa, será uma surpresa. Mas o que interessa são os resultados e esses obtêm-se em campo, no relvado, e não comparando orçamentos ou historiais. Que todas estas equipas sonhem com o seu apuramento e lutem por ele. Parece dificil mas não impossível. Venham de lá os jogos.
O sorteio da Liga Europa não foi favorável às equipas portuguesas

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Um Derby à 3ª Jornada

A 3ª jornada da Liga Portuguesa de Futebol Profissional trouxe-nos um derby de relevo que cativou os adeptos, algo pouco comum nos últimos anos já que a condicionante de não haver jogos entre os clubes grandes até à 5ª jornada foi uma realidade das ultimas edições. O Sporting recebia o Benfica no seu estádio e isso é sempre um jogo carregado de significado e emoção. Mas este jogo prometia algo mais. Apesar de ser ainda muito cedo no calendário futebolistico nacional,o jogo apresentava alguns factores que o tornavam diferente do realizado pelas mesmas equipas nas últimas épocas. De um lado, encontrava-se um Sporting altamente motivado, vindo de duas vitórias claras e com perspectivas legítimas de vencer o rival e dar um empurrão definitivo para uma época de sucesso e, do outro lado, um Benfica altamente pressionado pelos próprios adeptos, vindo de uma derrota e de uma vitória arrancada a ferros, com esperança de vencer o derby para estabilizar a equipa de forma decisiva e relançar a candidatura ao título. Nada disso aconteceu. O resultado foi um empate que acaba por não encher a barriga dos adeptos de nenhuma das equipas.
Adrien e Enzo proporcionaram um interessante duelo na primeira parte
O jogo jogado teve poucas oportunidades de golo e não se mostrou de grande qualidade futebolistica  mas mostrou, contudo, alguns pontos interessantes sobre as duas equipas. Pelo lado do Sporting, notou-se melhor as ideias que Leonardo Jardim, o seu treinador, quer implementar. A aposta recai num meio campo subido, com 2 homens mais avançados a pressionar o portador da bola no inicio da fase de construção, escudados por um pivot defensivo puro que serve de pilar para a consistência do meio campo. Para estes papeis, Jardim escolheu William Carvalho, jogador revelação da equipa leonina durante a pré temporada para trinco, Adrien Silva e André Martins para elementos mais adiantados. Estes dois jogadores ocupavam posições semelhantes mas apresentavam uma dinâmica diferente. André Martins subia mais quando a equipa tinha a bola mas logo recuava para uma posição semelhante à de Adrien quando esta a perdia, mas não era um verdadeiro número 10, não aparecendo para assumir a organização de jogo mas sim para combinar com os 3 homens da frente em jogadas rápidas e de poucos toques na bola. Estes dois jogadores foram os responsáveis pelo domínio Sportinguista na primeira parte e não deixavam Matic ou Enzo Perez respirar sempre que estes recebiam a bola, obrigando a que a entregassem em más condições e atrapalhando ou matando grande parte das jogadas benfiquistas. O Sporting jogou bem mas não me parece que André Martins e Adrien sejam jogadores para este tipo de jogo durante 90 minutos, principalmente o primeiro, apesar de tacticamente forte, vai perdendo disponibilidade física de forma evidente ao longo do jogo. A prestação de Freddy Montero é outro ponto a destacar nos leões mas agora a nível individual. O colombiano foi o homem mais avançado do Sporting e mostrou que tem qualidade. Marcou um bom golo mas foram as suas movimentações que me impressionaram. Aqui mostrou ser um jogador inteligente a fugir à marcação e a abrir espaços para os seus colegas. Sabe também recuar para  entrar no jogo colectivo, normalmente em pequenos toques e tabelas com os médios, logo aparecendo de novo na zona de finalização. Um jogador a fazer lembrar Liedson nos seus tempos áureos de verde e branco.
Montero festeja o primeiro golo da partida.
Do lado do Benfica, Jorge Jesus apostou numa das suas habituais tácticas, em 4-4-2, com a nuance de ter Gaitan como falso médio ala, a partir do flanco esquerdo para o centro assumindo-se como um número 10 nas costas dos móveis Lima e Rodrigo, dupla de avançados com quem deveria combinar ao longo das suas deambulações. Penso que a ideia de Jorge Jesus era pressionar a defesa leonina com a mobilidade dos seus dois avançados que abririam espaços para as entradas de Gaitan e até de Salvio, este também a descair mais para a zona central do que é habitual mas é difícil avaliar se esta era uma boa ideia do treinador encarnada visto que, na primeira parte, a equipa não teve muita bola para desenrolar este tipo de lances e depois Gaitan e Sálvio tiveram de sair por lesão. Confrontado com 3 lesões e a perder o jogo, Jorge Jesus não teve medo e passou a jogar num claro 4-2-4, lançando Markovic para a direita do ataque e Cardozo para o centro, o que levou Rodrigo a descair para a esquerda e apostou num futebol mais directo. Foi uma boa leitura de jogo pois permitiu que a bola passasse menos tempo no meio campo, onde o Sporting dominava e caísse mais vezes nos avançados das águias que combinavam entre si para abrir buracos na defesa leonina. Este sistema obrigou William Carvalho a recuar para ajudar a sua defesa e fez com que o meio campo sportinguista passasse a estar mais tempo numa situação de 2 para 2 ao invés da superioridade numérica de 3 para 2 da primeira parte. Isto, aliado ao esgotamento físico de André Martins fez com que o Benfica ganhasse o domínio de jogo e acabasse por empatar, curiosamente numa jogada individual. Destaque-se também no Benfica o regresso de Cardozo aos relvados, ainda muito fora de forma e a entrada de Markovic que mostrou excelentes pormenores e pode-se tornar num caso sério deste campeonato.
Markovic arranca para uma vistosa  jogada individual que culminaria com o golo do empate
O empate acaba por ser o resultado justo num jogo de pouca qualidade futebolistica mas de muita qualidade táctica. Leonardo Jardim e Jorge Jesus ofereceram um grande duelo de treinadores com o técnico dos leões a montar melhor a equipa e com Jorge Jesus a ler melhor o jogo, com este em andamento. Para as equipas, o empate não foi a vitória que o Benfica precisava para afastar definitivamente a pressão e para o Sporting não chegou para dissipar as dúvidas sobre se a equipa será realmente candidata a chegar ao fim do campeonato na disputa do título.