A 3ª jornada da Liga
Portuguesa de Futebol Profissional trouxe-nos um derby de relevo que cativou os
adeptos, algo pouco comum nos últimos anos já que a condicionante de não haver
jogos entre os clubes grandes até à 5ª jornada foi uma realidade das ultimas
edições. O Sporting recebia o Benfica no seu estádio e isso é sempre um jogo
carregado de significado e emoção. Mas este jogo prometia algo mais. Apesar de
ser ainda muito cedo no calendário futebolistico nacional,o jogo apresentava
alguns factores que o tornavam diferente do realizado pelas mesmas equipas nas
últimas épocas. De um lado, encontrava-se um Sporting altamente motivado, vindo
de duas vitórias claras e com perspectivas legítimas de vencer o rival e dar um
empurrão definitivo para uma época de sucesso e, do outro lado, um Benfica
altamente pressionado pelos próprios adeptos, vindo de uma derrota e de uma
vitória arrancada a ferros, com esperança de vencer o derby para estabilizar a
equipa de forma decisiva e relançar a candidatura ao título. Nada disso aconteceu.
O resultado foi um empate que acaba por não encher a barriga dos adeptos de
nenhuma das equipas.
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Adrien e Enzo proporcionaram um interessante duelo na primeira parte |
O jogo jogado teve poucas
oportunidades de golo e não se mostrou de grande qualidade futebolistica mas mostrou, contudo, alguns pontos
interessantes sobre as duas equipas. Pelo lado do Sporting, notou-se melhor as
ideias que Leonardo Jardim, o seu treinador, quer implementar. A aposta recai
num meio campo subido, com 2 homens mais avançados a pressionar o portador da
bola no inicio da fase de construção, escudados por um pivot defensivo puro que
serve de pilar para a consistência do meio campo. Para estes papeis, Jardim
escolheu William Carvalho, jogador revelação da equipa leonina durante a pré
temporada para trinco, Adrien Silva e André Martins para elementos mais
adiantados. Estes dois jogadores ocupavam posições semelhantes mas apresentavam
uma dinâmica diferente. André Martins subia mais quando a equipa tinha a bola mas
logo recuava para uma posição semelhante à de Adrien quando esta a perdia, mas
não era um verdadeiro número 10, não aparecendo para assumir a organização de
jogo mas sim para combinar com os 3 homens da frente em jogadas rápidas e de
poucos toques na bola. Estes dois jogadores foram os responsáveis pelo domínio
Sportinguista na primeira parte e não deixavam Matic ou Enzo Perez respirar
sempre que estes recebiam a bola, obrigando a que a entregassem em más
condições e atrapalhando ou matando grande parte das jogadas benfiquistas. O
Sporting jogou bem mas não me parece que André Martins e Adrien sejam jogadores
para este tipo de jogo durante 90 minutos, principalmente o primeiro, apesar de
tacticamente forte, vai perdendo disponibilidade física de forma evidente ao
longo do jogo. A prestação de Freddy Montero é outro ponto a destacar nos leões
mas agora a nível individual. O colombiano foi o homem mais avançado do
Sporting e mostrou que tem qualidade. Marcou um bom golo mas foram as suas
movimentações que me impressionaram. Aqui mostrou ser um jogador inteligente a
fugir à marcação e a abrir espaços para os seus colegas. Sabe também recuar
para entrar no jogo colectivo,
normalmente em pequenos toques e tabelas com os médios, logo aparecendo de novo
na zona de finalização. Um jogador a fazer lembrar Liedson nos seus tempos
áureos de verde e branco.
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Montero festeja o primeiro golo da partida. |
Do lado do Benfica, Jorge
Jesus apostou numa das suas habituais tácticas, em 4-4-2, com a nuance de ter
Gaitan como falso médio ala, a partir do flanco esquerdo para o centro
assumindo-se como um número 10 nas costas dos móveis Lima e Rodrigo, dupla de
avançados com quem deveria combinar ao longo das suas deambulações. Penso que a
ideia de Jorge Jesus era pressionar a defesa leonina com a mobilidade dos seus
dois avançados que abririam espaços para as entradas de Gaitan e até de Salvio,
este também a descair mais para a zona central do que é habitual mas é difícil
avaliar se esta era uma boa ideia do treinador encarnada visto que, na primeira
parte, a equipa não teve muita bola para desenrolar este tipo de lances e
depois Gaitan e Sálvio tiveram de sair por lesão. Confrontado com 3 lesões e a
perder o jogo, Jorge Jesus não teve medo e passou a jogar num claro 4-2-4,
lançando Markovic para a direita do ataque e Cardozo para o centro, o que levou
Rodrigo a descair para a esquerda e apostou num futebol mais directo. Foi uma
boa leitura de jogo pois permitiu que a bola passasse menos tempo no meio
campo, onde o Sporting dominava e caísse mais vezes nos avançados das águias
que combinavam entre si para abrir buracos na defesa leonina. Este sistema
obrigou William Carvalho a recuar para ajudar a sua defesa e fez com que o meio
campo sportinguista passasse a estar mais tempo numa situação de 2 para 2 ao
invés da superioridade numérica de 3 para 2 da primeira parte. Isto, aliado ao
esgotamento físico de André Martins fez com que o Benfica ganhasse o domínio de
jogo e acabasse por empatar, curiosamente numa jogada individual. Destaque-se
também no Benfica o regresso de Cardozo aos relvados, ainda muito fora de forma
e a entrada de Markovic que mostrou excelentes pormenores e pode-se tornar num
caso sério deste campeonato.
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Markovic arranca para uma vistosa jogada individual que culminaria com o golo do empate |
O empate acaba por ser o
resultado justo num jogo de pouca qualidade futebolistica mas de muita
qualidade táctica. Leonardo Jardim e Jorge Jesus ofereceram um grande duelo de
treinadores com o técnico dos leões a montar melhor a equipa e com Jorge
Jesus a ler melhor o jogo, com este em andamento. Para as equipas, o empate não
foi a vitória que o Benfica precisava para afastar definitivamente a pressão e
para o Sporting não chegou para dissipar as dúvidas sobre se a equipa será
realmente candidata a chegar ao fim do campeonato na disputa do título.
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