terça-feira, 1 de outubro de 2013

Fonseca metido num 8

Paulo Fonseca não gostou das criticas às exibições da sua equipa
“Não passamos do 80 para o 8”. Foi com esta frase que Paulo Fonseca, treinador do FC Porto, respondeu às criticas que foram dirigidas às exibições da sua equipa após alguns jogos menos conseguidos. Com efeito, os jogos contra Áustria de Viena e Estoril não corresponderam às expectativas dos adeptos e mesmo grande parte do último jogo disputado para o campeonato, frente ao Vitória de Guimarães deixou algo a desejar. Ganhou dois desses três jogos mas de forma tangencial e o empate com o Estoril, casos de arbitragem à parte, não poderia parecer mais justo. A verdade é que o FC Porto começou muito bem a época, com exibições portentosas no jogo da Supertaça e em casa com o Marítimo, esta última inflacionada pelo facto de os madeirenses terem batido o Benfica apenas uma semana antes. Mas, desde essa altura e apesar de coleccionar vitórias, foi perdendo qualidade de jogo.
Fernando tem apresentado algumas dificuldades a jogar com alguém a seu lado

A expressão usada por Paulo Fonseca não deixa de ser curiosa até porque é exactamente no número 8 que está a grande diferença da época anterior para esta e talvez a origem do problema actual. Desde que assumiu o comando do FC Porto, Paulo Fonseca tem trabalhado para imprimir o seu cunho pessoal ao futebol praticado. A equipa continua a apresentar-se no seu tradicional 4-3-3 mas joga de forma diferente quando comparada com as duas últimas épocas, à altura comandada por Vítor Pereira. Não está tão obcecada com a posse de bola e pratica um futebol mais rápido, utilizando mais as faixas laterais para chegar com maior velocidade à baliza adversária. Os extremos têm, assim, apresentado maior relevância no jogo colectivo da equipa, sendo mais vezes chamados a cruzar bolas ou até a aparecer na área para finalizar.Mas é no meio campo que se nota a maior diferença. Continua, no papel, a apresentar um meio campo a 3 mas deixou de apresentar um número 8 bem definido e joga agora com um duplo pivot defensivo. Este duplo pivot tem a missão de controlar as movimentações adversárias nesta zona do terreno mas também de sair com a bola controlada e envolver-se de forma clara no movimento ofensivo da equipa. Para isso, um dos jogadores da dupla, de forma mais ou menos alternada, sai do seu lugar recuado e assume a tal posição 8 que estava vaga, aparecendo bem mais à frente a combinar com quem quer que conduza a bola ou até mesmo a assumir a própria condução de jogo. Nestas funções, Defour parece estar mais confortável mas Fernando mostra dificuldades. O brasileiro não tem caracteristicas para pegar no jogo. É um recuperador nato que quando tem a bola a sabe entregar com qualidade mas não é especialista na condução. Além disso, está menos eficaz a defender parecendo até algo perdido em campo, o que é estranho para um jogador que faz do posicionamento a sua principal arma. Ao vê-lo jogar nestas condições, lembro-me sempre de Redondo, trinco do Real Madrid dos anos 90, que dizia que colocar outro trinco a seu lado é como tapar um dos seus olhos. Mesmo Defour não está a corresponder como esperado. Sabe defender a dois e aparecer à frente mas não é dotado o suficiente para fazer a diferença. É um jogador de equilíbrios e o que se pede nesta função, quando sai da sua posição recuada, é que apareça a desequilibrar.
Onze do FC Porto contra o Vitória de Guimarães

Paulo Fonseca parece já ter reparado nisto e tentou utilizar outros jogadores nesta posição. O primeiro a aparecer foi Josué mas pareceu ainda mais desenquadrado do jogo. Apesar de saber conduzir a bola não sabe defender como o belga e acaba por abanar a solidez do meio campo. Com menos recuperação, há menos bola e o seu bom jogo ofensivo acaba por sofrer com isso. Além disso,  é um jogador que gosta de percorrer caminhos mais adiantados e, nesta posição, é obrigado a passar mais tempo na linha defensiva do meio campo do que na ofensiva. É a antitese de Defour. No último jogo, o treinador dos dragões surpreendeu ao colocar Lucho Gonzalez no duplo pivot. O argentino sempre primou pelo seu grande sentido táctico e até é um 8 de formação. Fez um bom jogo recuperando várias bolas e saindo a jogar como se lhe pedia, chegando a aparecer como tanto gosta na área a finalizar. Mas jogar desta forma é muito exigente fisicamente e o capitão portista já com 32 anos, foi perdendo fulgor com o decorrer do jogo e, com a entrada em campo de Defour,  acabou-o na sua posição habitual, no vértice ofensivo do triângulo central.
Mas não se pode olhar apenas para o esquema táctico. Ninguém deve esquecer que o FC Porto perdeu, para esta temporada, João Moutinho. Este era o jogador que ocupava o espaço central de forma exemplar, organizava jogo desde atrás e aparecia a fechar a porta ao adversário quando necessário. Era o jogador chave das temporadas passadas e não foi por mera coincidência que a sua ausência, por lesão, na época anterior, correspondeu ao mês em que o FC Porto de Vítor Pereira apresentou piores exibições, tendo inclusivamente caído na Liga dos Campeões e motivado criticas dos seus adeptos. Mas Moutinho seria sempre difícil de substituir e era esperado que a equipa sentisse a sua falta. É o 8 que falta. Paulo Fonseca sabia disso desde o inicio da pré temporada. 
João Moutinho é o 8 que falta ao FC Porto
Talvez por não ter Moutinho, o treinador tenha desde cedo introduzido e insistido neste esquema mas não me parece que seja o melhor para os jogadores que possui. Tem conseguido compensar, a espaços, com a colocação de Josué a falso extremo, aparecendo este no meio para se integrar no jogo ofensivo interior e deixando o duplo pivot menos pressionado para o fazer, algo que era a sua táctica preferencial no Paços de Ferreira mas isso, no fundo, é ter dois jogadores a fazer o que Moutinho fazia sozinho. Penso que está aqui o grande responsável pela fraca qualidade das exibições portistas. O duplo pivot defensivo não é necessariamente uma má ideia mas quando deixa jogadores fundamentais, como Fernando, fora do seu habitat natural, passa a ser uma ideia, no mínimo, discutível. Paulo Fonseca estaria melhor a jogar pelo seguro e voltar ao meio campo típico do 4-3-3 moderno, com um trinco, um médio centro e um médio ofensivo mas compreende-se que queira impor as suas ideias, mesmo correndo o risco de levantar criticas nos adeptos azuis e brancos. Se as vitórias continuarem a fluir, acabará por conquistá-los e à critica. 

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