Paulo Fonseca não gostou das criticas às exibições da sua equipa |
“Não passamos do 80 para
o 8”. Foi com esta frase que Paulo Fonseca, treinador do FC Porto, respondeu às
criticas que foram dirigidas às exibições da sua equipa após alguns jogos menos
conseguidos. Com efeito, os jogos contra Áustria de Viena e Estoril não
corresponderam às expectativas dos adeptos e mesmo grande parte do último jogo
disputado para o campeonato, frente ao Vitória de Guimarães deixou algo a
desejar. Ganhou dois desses três jogos mas de forma tangencial e o empate com o
Estoril, casos de arbitragem à parte, não poderia parecer mais justo. A verdade
é que o FC Porto começou muito bem a época, com exibições portentosas no jogo
da Supertaça e em casa com o Marítimo, esta última inflacionada pelo facto de
os madeirenses terem batido o Benfica apenas uma semana antes. Mas, desde essa
altura e apesar de coleccionar vitórias, foi perdendo qualidade de jogo.
Fernando tem apresentado algumas dificuldades a jogar com alguém a seu lado |
A expressão usada por
Paulo Fonseca não deixa de ser curiosa até porque é exactamente no número 8 que
está a grande diferença da época anterior para esta e talvez a origem do
problema actual. Desde que assumiu o comando do FC Porto, Paulo Fonseca tem
trabalhado para imprimir o seu cunho pessoal ao futebol praticado. A equipa
continua a apresentar-se no seu tradicional 4-3-3 mas joga de forma diferente
quando comparada com as duas últimas épocas, à altura comandada por Vítor
Pereira. Não está tão obcecada com a posse de bola e pratica um futebol mais
rápido, utilizando mais as faixas laterais para chegar com maior velocidade à
baliza adversária. Os extremos têm, assim, apresentado maior relevância no jogo
colectivo da equipa, sendo mais vezes chamados a cruzar bolas ou até a aparecer na área para finalizar.Mas é no meio campo que
se nota a maior diferença. Continua, no papel, a apresentar um meio campo a 3 mas
deixou de apresentar um número 8 bem definido e joga agora com um duplo pivot
defensivo. Este duplo pivot tem a missão de controlar as movimentações
adversárias nesta zona do terreno mas também de sair com a bola controlada e
envolver-se de forma clara no movimento ofensivo da equipa. Para isso, um dos
jogadores da dupla, de forma mais ou menos alternada, sai do seu lugar recuado
e assume a tal posição 8 que estava vaga, aparecendo bem mais à frente a
combinar com quem quer que conduza a bola ou até mesmo a assumir a própria
condução de jogo. Nestas funções, Defour parece estar mais confortável mas
Fernando mostra dificuldades. O brasileiro não tem caracteristicas para pegar
no jogo. É um recuperador nato que quando tem a bola a sabe entregar com
qualidade mas não é especialista na condução. Além disso, está menos eficaz a
defender parecendo até algo perdido em campo, o que é estranho para um jogador
que faz do posicionamento a sua principal arma. Ao vê-lo jogar nestas
condições, lembro-me sempre de Redondo, trinco do Real Madrid dos anos 90, que
dizia que colocar outro trinco a seu lado é como tapar um dos seus olhos. Mesmo
Defour não está a corresponder como esperado. Sabe defender a dois e aparecer à
frente mas não é dotado o suficiente para fazer a diferença. É um jogador de
equilíbrios e o que se pede nesta função, quando sai da sua posição recuada, é
que apareça a desequilibrar.
Onze do FC Porto contra o Vitória de Guimarães |
Paulo Fonseca parece já
ter reparado nisto e tentou utilizar outros jogadores nesta posição. O primeiro
a aparecer foi Josué mas pareceu ainda mais desenquadrado do jogo. Apesar de
saber conduzir a bola não sabe defender como o belga e acaba por abanar a
solidez do meio campo. Com menos recuperação, há menos bola e o seu bom jogo
ofensivo acaba por sofrer com isso. Além disso, é um jogador que gosta de percorrer caminhos
mais adiantados e, nesta posição, é obrigado a passar mais tempo na linha
defensiva do meio campo do que na ofensiva. É a antitese de Defour. No último
jogo, o treinador dos dragões surpreendeu ao colocar Lucho Gonzalez no duplo
pivot. O argentino sempre primou pelo seu grande sentido táctico e até é um 8
de formação. Fez um bom jogo recuperando várias bolas e saindo a jogar como se
lhe pedia, chegando a aparecer como tanto gosta na área a finalizar. Mas jogar
desta forma é muito exigente fisicamente e o capitão portista já com 32 anos, foi
perdendo fulgor com o decorrer do jogo e, com a entrada em campo de Defour, acabou-o na sua posição habitual, no vértice
ofensivo do triângulo central.
Mas não se pode olhar
apenas para o esquema táctico. Ninguém deve esquecer que o FC Porto perdeu,
para esta temporada, João Moutinho. Este era o jogador que ocupava o espaço
central de forma exemplar, organizava jogo desde atrás e aparecia a fechar a
porta ao adversário quando necessário. Era o jogador chave das temporadas
passadas e não foi por mera coincidência que a sua ausência, por lesão, na
época anterior, correspondeu ao mês em que o FC Porto de Vítor Pereira
apresentou piores exibições, tendo inclusivamente caído na Liga dos Campeões e
motivado criticas dos seus adeptos. Mas Moutinho seria sempre difícil de substituir
e era esperado que a equipa sentisse a sua falta. É o 8 que falta. Paulo
Fonseca sabia disso desde o inicio da pré temporada.
João Moutinho é o 8 que falta ao FC Porto |
Talvez por não ter
Moutinho, o treinador tenha desde cedo introduzido e insistido neste esquema
mas não me parece que seja o melhor para os jogadores que possui. Tem
conseguido compensar, a espaços, com a colocação de Josué a falso extremo,
aparecendo este no meio para se integrar no jogo ofensivo interior e deixando o
duplo pivot menos pressionado para o fazer, algo que era a sua táctica preferencial
no Paços de Ferreira mas isso, no fundo, é ter dois jogadores a fazer o que
Moutinho fazia sozinho. Penso que está aqui o grande responsável pela fraca
qualidade das exibições portistas. O duplo pivot defensivo não é
necessariamente uma má ideia mas quando deixa jogadores fundamentais, como
Fernando, fora do seu habitat natural, passa a ser uma ideia, no mínimo,
discutível. Paulo Fonseca estaria melhor a jogar pelo seguro e voltar ao meio
campo típico do 4-3-3 moderno, com um trinco, um médio centro e um médio
ofensivo mas compreende-se que queira impor as suas ideias, mesmo correndo o
risco de levantar criticas nos adeptos azuis e brancos. Se as vitórias
continuarem a fluir, acabará por conquistá-los e à critica.
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